Fonte: Exame
Matéria / Texto: Alexa Salomão

A reportagem da EXAME conversou com essas três mulheres, todas estudantes universitárias, e constatou que, mais que uma opção pessoal ou um padrão cultural, a diferença de comportamento entre elas é ditada pela qualidade do transporte público nas cidades em que vivem. Mais precisamente por um tipo específico de transporte: o ônibus. Enquanto em São Paulo e nas demais cidades brasileiras o ônibus é sinônimo de desconforto, atraso e ineficiência, nas capitais mexicana e espanhola, esse meio de transporte é visto como um aliado para ganhar tempo na rotina urbana. Marta e Maru têm a resposta pronta quando lhes perguntam por que andam de ônibus: “Porque até parece metrô”.
A explicação está no fato de que, tanto Madri quanto a Cidade do México, cada qual à sua maneira, adotaram um sistema de ônibus conhecido pelo nome de BRT, sigla em inglês para Transporte Rápido por Ônibus. O BRT conta com sistemas de gestão e tecnologias que lhe dão agilidade e conforto semelhantes ao de um metrô — e pode ser uma solução para as entupidas metrópoles brasileiras.
Os ônibus em Madri utilizam faixas exclusivas, têm ar-condicionado e operam com pontualidade. Um sistema de informação permite que o passageiro veja o horário em que o ônibus vai passar em cada ponto — em painéis instalados nas estações, no site da empresa e por um serviço via celular. Ônibus noturnos, chamados Buho (coruja, em espanhol), circulam da meia-noite às 6 e meia da manhã, a cada 20 minutos, seguindo o trajeto do metrô, que fecha na madrugada. Na Cidade do México, a espinha dorsal do transporte público sobre rodas é o Metrobus, um BRT que tem à disposição corredores com três pistas de cada lado. Duas permitem a ultrapassagem e a terceira atende ao chamado expresso, o ônibus que liga a área central aos bairros, sem paradas intermediárias.
“O grande desafio para as cidades no século 21 é oferecer transporte público de massa com qualidade e tirar as pessoas dos carros. O BRT se revelou uma solução eficiente”, diz o mexicano Bernardo Baranda, um dos criadores do Metrobus, hoje diretor na América Latina do Instituto de Políticas de Transportes e Desenvolvimento, entidade com sede em Nova York. Na última década, quase 100 sistemas de BRT foram instalados em países como França, Peru, China e África do Sul. Instituições como o Banco Mundial passaram a recomendar e a financiar projetos de ônibus rápido, mais baratos e fáceis de ser implantados do que o metrô.
Um quilômetro de metrô pode custar até 400 milhões de dólares, ante apenas 30 milhões no caso do BRT. E os dois podem ter capacidade semelhante em termos de número de passageiros transportados. Os defensores do sistema dizem que uma ampla malha de ônibus bem gerida tira as pessoas dos carros, ao mesmo tempo em que desafoga o metrô. Alguns defendem que, num futuro próximo, o surgimento de novas tecnologias pode transformar o BRT num substituto do metrô. “As cidades se adensaram e está cada vez mais trabalhoso e caro expandir o metrô onde ele é mais necessário”, diz Adalberto Maluf, diretor da Fundação Clinton no Brasil.
O maior entrave à implantação do BRT é a supremacia do automóvel. Para abrir corredores, erguer estações espaçosas e reurbanizar calçadas — medidas indispensáveis para resgatar a eficiência e a boa imagem do ônibus —, o carro tem de perder espaço. Apesar dos benefícios, é grande a pressão contra as mudanças.

