Agosto de 1988

Fonte: Rota Bus PB Matéria/Texto: Kristofer Oliveira Foto: Arquivo Paraíba Bus Team Nas imagens desse documento vemos a imagem de uma extinta empresa pessoense, a São Judas Tadeu (que é a imagem ao ...

Fonte: Rota Bus PB
Matéria/Texto: Kristofer Oliveira
Foto: Arquivo Paraíba Bus Team

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Nas
imagens desse documento vemos a imagem de uma extinta empresa pessoense, a São
Judas Tadeu (que é a imagem ao lado, um Torino 1983 com a vista da linha 510 –
Tambaú), e uma abaixo, que é a de um Caio Amélia da Transnacional (linha 301 –
Mangabeira). Em agosto de 1988 a Paraíba
vivenciou um das mais marcantes manifestação do movimento estudantil e popular. A
Transnacional veio para João Pessoa em 1987 e comprou a empresa Nossa Senhora das
Neves, herdando as linhas e os carros. No fim de 1988 compra a São Judas Tadeu,
herdando os carros e linhas, a exemplo da 510. Certamente, essa da imagem
ao lado, chegou a rodar na Transnacional. Vejam aqui nessa matéria como uma manifestação bem orquestrada e popular pode ser uma vitória garantida do povo democrático! Vejam aqui o dia que João Pessoa literalmente parou e o aumento da passagem foi cancelado por pressão do povo!

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E um fato
curioso… a Reunidas tem como endereço oficial uma localidade do bairro do
Cristo, apesar dela compartilhar a garagem em Água Fria com a Transnacional,
TBS e Nacional. E mais curioso ainda do endereço ser a antiga garagem da São
Judas Tadeu; aquele galpão que podemos ver na Ranieri Mazilli.
Fonte das
explicações históricas: Josivandro Avelar
*****

ESTUDANTES
BOTAM PRA QUEBRAR

Num
movimento começado pelos estudantes secundaristas e universitários, a Paraíba
os viu irem para as ruas, enfrentar a polícia, levar mais de 30 mil pessoas
para protestar no maior movimento popular que a história da Paraíba registrou:
foram mais de 30 ônibus quebrados, vários incendiados, numa expressão viva de
fúria que envolveu o povo nesses dias de protestos. O resultado foi a vitória do povo.
O Governo da Paraíba recuou, interviu na prefeitura, desmoralizou mais ainda o
prefeito e congelou o preço das passagens.

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15 de agosto – Reunião do conselho da STP
(Superintendência de Transportes Públicos), onde foi homologado por sete votos
a um, o aumento da tarifa para 44 cruzados. O DCE foi o único contra o aumento,
entre os oito membros do Conselho. O presidente do DCE, Flávio Lúcio, foi expulso
da reunião. Imediatamento, o DCE enviou um Telex ao prefeito Carneiro
Arnaud exigindo a revisão do aumento. O prefeito fez ouvido de mercador.

16 de
agosto
 –
O DCE/UFPB, a FEPAC (Federação Paraibana das Associações de Comunidades) e a
comissão Pró-UPES (União Pessoense dos Estudantes Secundaristas) realizam
passeata de protesto até a sede da Prefeitura Municipal, exigindo uma audiência
do prefeito Carneiro Arnaud, em resposta ao Telex. Carneiro não se encontrava
na sede da prefeitura. Dois ônibus foram apedrejados. O presidente do Sindicato
patronal, Abelardo Azevedo, joga a culpa dos apedrejamentos em João Xavier,
diretor do DCE, Jaêmio Carneiro, do PV, e Vladimir Dantas, da FEPAC. Logo vê-se
que as acusações são infundadas.

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agosto
 –
O movimento ganha fôlego. Uma enorme passeata sai do Lyceu rumo à
Prefeitura de João Pessoa, onde novamente o prefeito não é encontrado. Cresce a
revolta popular. Muitos ônibus são apedrejados. O movimento
é nacionalmente divulgado. Abelardo Azevedo é flagrado dando tiros para
cima nas ruas. Na foto ao lado um ônibus da empresa Transnacional, atualmente chamada Unitrans, depredado pela população.

18 de
agosto
 –
Pela manhã, há uma grande investida nos rádios contra a liderança do movimento,
taxada de oportunista e irresponsável. Até Dom José Matia Pires, no
programa  Correio Debate, aconselha o povo a não engrossar os protestos
radicalizados contra o aumento das passagens. Vãs tentativas. O trabalho de
mobilização da UFPB e escolas permanece e cresce em adesão e simpatia.
Contudo, prevê-se que haverá enfrentamentos com a polícia. E realmente a
polícia aparece. Antes de começar a passeata pacífica, a polícia aparece com
violência batendo e prendendo manifestantes entre os quais Zenedy Bezerra,
diretor do DCE. Os manifestantes resistem.
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Manifestante em protesto depreda um ônibus da empresa São Judas Tadeu, da linha 510 – Tambaú, comprada pela atual Unitrans pouco tempo depois
Observando ser incontível a
disposição dos manifestantes, a polícia cede, e após negociação envolvendo as
entidades do movimento, a passeata ganha as ruas. Na prefeitura, novamente o
prefeito Carneiro Arnaud não é encontrado. Chegando próximo ao viaduto a
passeata já envolve praticamente toda população presente, naquele momento
dentro da cidade. A partir daí, a revolta popular é incontrolável. E
quebra-quebras repetem-se de todos os lados, repetem-se por todos os
recantos da cidade. Preocupados, reúne-se o alto staff do governo do Estado.
Burity tira da cartola uma proposta para contar a revolta popular: congelamento
do preço da tarifa e a criação de uma empresa estatal de transportes
públicos…
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Monobloco Mercedes-Benz da Transnacional  sendo virado por vários manifestantes, num ataque de fúria pelo aumento abusivo por tanto descaso

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Posto de apoio da empresa Etur no Terminal Urbano sendo depredado, onde atualmente é o Terminal de Integração do Varadouro
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19 de agosto – A cidade amanhece sem transportes.
Clima de feriado e ressaca. Às 10 horas da noite, os ônibus voltam a circular com
os preços congelados. Vitória não do governador, mas do movimento popular
organizado. Vitória do povo de João Pessoa. Exemplo para futuros embates.
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Vários ônibus da Etur destruídos na garagem no dia seguinte. Essa mesma garagem foi usada pela Boa Viagem posteriormente

Fonte: DCE Presente – Jornal do Diretório
dos Estudantes da UFPB – Agosto de 1988, nº 1.

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abelardo+azevedo+dono+da+empresa+onibus+etur+joao+pessoa+presidente+sindicato+motoristas+para%C3%ADbaO Abelardo
Azevedo que foi citado dando tiros para cima nas ruas e que era presidente do Sindicato dos Motoristas, vem a ser o dono da empresa Etur, que foi extinta em 1994, e que a partir de
então, a Boa Viagem e Reunidas foram fundadas. Vejam só que ironia, o presidente do sindicato é exatamente o dono da maior empresa de ônibus da época, ou seja, quanto interesse em melhorar as coisas, além de dar tiros para cima… O Sr Abelardo Azevedo, dono da Etur, que nos anos próximos a 1988 era a maior empresa de João Pessoa, vem a ser esse cidadão na foto ao lado, e que a título de informação, já partiu dessa pra melhor, falecendo num acidente de carro entre João Pessoa e Recife.

A estatal que
a matéria se refere vem a ser a SETUSA, empresa a qual foi comprada pela
Transnacional em 1996:

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Para saber mais dessa época, leiam também aqui no Portal Ônibus Paraibanos uma matéria completa com toda a história da empresa estatal SETUSA, desde seu surgimento até a entrega para as mãos de iniciativa privada nesse link: http://www.onibusparaibanos.com/2012/12/setusa-uma-lenda-no-transporte-pessoense.html