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Portal Ônibus Paraibanos
Portal Ônibus Paraibanos
Matéria
/ Texto: Carlos Alberto Ribeiro
/ Texto: Carlos Alberto Ribeiro
Fotos: Divulgação
A situação da Busscar, todos sabem, é uma novela
cujo último capítulo ninguém sabe quando será passado. Muitos interesses
diversos em jogo que não convergem num único sentido para um consenso final.
Cada um puxa para um lado e a eterna burocracia da Justiça brasileira impede
uma solução definitiva. Inúmeros recursos pendentes, Liminares concedidas e a
falta de apreciação do mérito do processo pelo pleno do TJ/SC permitem uma
procrastinação da solução final que satisfaça ampla maioria dos envolvidos, já
que agradar gregos e troianos neste caso é impossível.
cujo último capítulo ninguém sabe quando será passado. Muitos interesses
diversos em jogo que não convergem num único sentido para um consenso final.
Cada um puxa para um lado e a eterna burocracia da Justiça brasileira impede
uma solução definitiva. Inúmeros recursos pendentes, Liminares concedidas e a
falta de apreciação do mérito do processo pelo pleno do TJ/SC permitem uma
procrastinação da solução final que satisfaça ampla maioria dos envolvidos, já
que agradar gregos e troianos neste caso é impossível.
As dívidas, com valores atualizados, chegam a casa de R$ 821 milhões. A dívida
trabalhista é de R$ 116 milhões. São 5.500 ex-funcionários que possuem créditos
a receber, desde salários até a rescisão contratual. Os ex-sócios da Busscar,
Valdir Nielson e Ilonie Nielson, representados pelas empresas RR
Empreendimentos e Participações, e pela Prata Participações e Empreendimentos,
possuem nada mais nada menos do que R$ 305 milhões de passivo imobilizado na
rubrica “Busscar”. Um valor fenomenal que pode quebrar com a vida contábil de
muitas empresas de médio para grande porte.
E os bancos, instituições de negócios que mais lucram no Brasil que é o berço
mundial da agiotagem e especulação financeira, tudo com o aval do governo
federal, esperam receber da Busscar R$ 400 milhões, dividido entre 17 bancos
que possuem créditos a receber. Já determinado pela Justiça, os bancos são os
últimos da lista a receber no caso de venda da Busscar para algum grupo ou
leilão do seu parque fabril e outros imóveis. Eles, os bancos, não têm garantia
real, são quirografários, ou seja, são os últimos da lista de credores. Bem
feito para quem cobra taxas de juros que mais beira a extorsão. Quando se chegar
a uma solução definitiva para o caso e aparecer o dinheiro, os funcionários
serão os primeiros a receber, depois os credores que tem como lastro a garantia
real. Por último, os bancos. Detalhe, como os juros no Brasil correm soltos,
sempre em curva ascendente, o risco real dos bancos não receberem nada é
enorme, pois não sobrará dinheiro para eles.
A demora em equacionar e dar andamento definitivo ao processo de recuperação
judicial ou processo falimentar é um veneno letal para todos os credores, pois
quanto mais passa o tempo, mais perde valor de mercado os ativos da Busscar,
por conta da depreciação natural, defasagem tecnológica do processo produtivo,
falta de competitividade e sucateamento de todo o parque fabril. Se os Nielson
(dona Rosita e Cláudio, mãe e filho) conseguissem de alguma forma retomar o
controle da empresa, com capital de giro suficiente para sanear dívidas de
curto prazo e voltar a fabricar ônibus, poderia, através de uma “jóint-venture”
com a Busscar da Colômbia, formalizar acordo de transferência de tecnologia e
“know-how” para atualização da sua linha de ônibus no Brasil.
A Carrocerias de Ocidente possui uma empresa que tem a família Nielson como
acionista. Se chama Busscar de Colombia S.A. Nela, os Nielson possuem 40% do
capital social. É uma empresa saudável do ponto de vista contábil e fabrica
entre 900 a 1.100 ônibus por ano. Pois bem, os ônibus fabricados pela empresa
colombiana poderiam ser aqui fabricados ou de lá para cá exportados
aproveitando o excelente conceito do nome “Busscar” no Brasil, a rede de
revenda e assistência técnica ainda existente, e passar a exportar ônibus para
o Brasil, se não completo, mas em regime CKD para reencarroçamento sobre chassi
aqui.
Produtos com tecnologia de ponta, modernos, confortáveis e design sedutor a
empresa tem, como o novo ônibus lançado em 2012, o Busscar Busstar DD (Double
Decker), que é uma evolução natural do Busscar Panorâmico Elegance DD fabricado
no Brasil entre 2008 a 2012.
Há mais perguntas do que respostas sobre o caso Busscar. O que será dela
ninguém consegue prever ao certo.
Ninguém quer a falência definitiva dela. É uma empresa muito querida por todos.
Mas como conseguir sua recuperação e a volta ao cenário nacional de ônibus, se
analisarmos os seguintes requisitos:
1) A grade de produtos do portfólio da Busscar, cuja última atualização ocorreu
no ano de 2008, se comparada ao da concorrência, encontra-se defasada. Sem mais
uma equipe de engenharia e de design para a formulação de novos projetos, como
lançar novos ônibus para concorrer em todos os segmentos de mercado?
2) Aonde arrumar dinheiro para capital de giro, contratar funcionários ou
recontratar os antigos colaboradores e ainda comprar matéria prima para o
processo fabril?
3) Se os controladores da Busscar numa possível retomada da atividade fabril
fosse a família Nielson, onde eles iriam buscar os recursos necessários, já que
possuem restrição de crédito junto aos bancos?
4) No acordo feito entre os credores/fornecedores com a Busscar, os primeiros
tiveram de se contentar com um desconto compulsório de 70% a 80%. E o saldo
restante do débito, 20% a 30%, receberiam no decorrer de quatro anos. Veja o
absurdo. Praticamente a Busscar estava propondo o perdão de toda a dívida junto
aos seus fornecedores. E com tamanho débito imobilizado eles sentiriam
confiança em voltar a vender para a Busscar? Será que foi considerado no plano
de recuperação judicial que junto a dezenas de fornecedores da Busscar, novas
vendas de matéria prima somente com pagamento à vista e antecipado?
5) No plano de recuperação judicial, qualquer que tenha sido a previsão de
fabricação e vendas de ônibus/ano foi considerado que a concorrência não
assistirá de braços cruzados? E que para a luta pela reconquista da fatia de
mercado que já teve poderá ter de se defrontar com “dumping” comercial, ou
seja, a concorrência poderia baixar preços de tabela, prazos de carência
aumentados e melhores condições de CDC, crédito direto ao consumidor? “Uma bala
na agulha” que a Busscar, descapitalizada, não teria.
6) No plano de recuperação, tão otimista, foi considerado a hipótese de viés do
mercado, com vendas em retração, “dumping”, preços de matéria prima em alta
empurrada pelo índice inflacionário, além de juros mais altos?
Com todas essas variáveis em jogo, sem sinal concreto de investidores, sem a
Justiça conseguir uma solução para o caso, a verdade é que o parque fabril está
abandonado, a mercê da ação do tempo, enferrujando máquinas e comprometendo
também toda a estrutura dos galpões. Com isso, a depreciação do patrimônio é
acelerada e todos perdem. Uma lástima.