Maior linha de ônibus do Brasil vai do Rio Grande do Sul ao Ceará em 5 dias

Fonte: Folha de São Paulo Matéria / Texto: Mariana Bonfim Ilustração: Carolina Daffara Ferreira/Editoria de Arte/Folhapress Fotos: Divulgação / Mariana Bonfim “Vou com vocês até Vitória da ...
Fonte:
Folha de São Paulo
Matéria / Texto: Mariana Bonfim
Ilustração: Carolina Daffara Ferreira/Editoria de Arte/Folhapress
Fotos: Divulgação / Mariana Bonfim

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“Vou com vocês até Vitória da Conquista, na
Bahia. São seis horas de viagem”, anuncia o motorista, atravessando o
corredor do ônibus. Ele é um dos 11 no revezamento do volante.

A Folha percorreu 4.530 km na maior linha de ônibus
em funcionamento no Brasil, segundo a ANTT (Agência Nacional de Transportes
Terrestres). A reportagem relata nesta edição como é o trajeto –feito pela
empresa Nossa Senhora da Penha há mais de 30 anos– e quem são os passageiros
que entram e saem durante o percurso.
A viagem começou na noite de quinta-feira em
Pelotas (RS) e terminou em Fortaleza (CE), quase 80 horas depois.
Passa das 16h30 de sábado e o ônibus está parado na
rodoviária de Teófilo Otoni (MG), o que significa que mais da metade do caminho
ficou para trás.
Numa poltrona na janela, uma das mãos de Antônio
Cruz segura a imagem de uma santa de gesso com cerca de um metro de altura, da
qual ele não desgrudou desde o seu embarque, em Curitiba (PR).
É por causa dela que o aposentado, 74, escolheu o
ônibus para ir a Fortaleza.
“Já viajei de avião uma vez”, Antônio
conta. “Mas minha Nossa Senhora de Fátima tinha que vir comigo, ia ser complicado”.
Com a outra mão, ele segura uma pasta de
documentos. A certidão registra Quixeramobim, no sertão cearense, como o local
de nascimento. É para lá que ele vai, visitar a família. “Em Fortaleza,
pego mais um ônibus para chegar.”
São poucos os passageiros que viajam do início ao
fim.
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VIAGEM É AULA SOBRE BIOMAS BRASILEIROS
Do Sul ao Nordeste, a paisagem emoldurada pela
janela do ônibus na linha rodoviária mais longa do país muda lentamente. É como
assistir a uma aula prática sobre os biomas brasileiros, dos pampas e da mata
atlântica ao cerrado e à caatinga.
Os 13°C marcados pelo termômetro na rodoviária de
Pelotas (RS) sobem lentamente e, quando a BR-116 atravessa uma série de cidades
mineiras pequenas e parecidas, como São João do Manhuaçu e Santa Rita de Minas,
um mostrador dentro do ônibus informa que a temperatura externa está na casa
dos 31°C.
Por causa do ar-condicionado no interior do
veículo, os passageiros só sentem o calor nas breves paradas de 30 minutos que,
em geral, ocorrem a cada três horas.
Durante a parada para o almoço de sábado, em
Governador Valadares (MG), Irandir Barbosa de Moura, 64, conta que pegou a
linha em Itajaí (SC) para descer em Icó (CE). Depois, seguirá para sua cidade,
Lavras de Mangabeira, a 70 km da parada do ônibus.
Viajando com a mulher, a professora Elza Barbosa de
Moura, 60, o pedreiro retorna de uma visita de quase um mês aos seis filhos,
que moram na cidade catarinense. “O ônibus é muito cansativo”, diz.
“Prefiro avião, mas minha mulher tem medo.”
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Antonio Cruz e a santa foram de Curitiba até Fortaleza
O medo de voar, aliás, é, ao lado de questões como
a ausência de limite de bagagem e a possibilidade de viajar de graça, um dos
motivos que explicam por que há quem prefira passar dias na estrada, em vez de
horas no ar.
Do ponto de vista financeiro, o avião é mais
vantajoso. Com três semanas de antecedência, é possível comprar, por exemplo,
uma passagem de Navegantes (SC), a 3 km de Itajaí, a Juazeiro do Norte (CE),
onde está o aeroporto mais próximo de Icó, por R$ 521. São seis horas de voo. A
passagem de ônibus de Itajaí a Icó custa R$ 566,30. E quase 60 horas de
estrada.
PASSAGEIRO ESPECIAL
No caso da aposentada Raimunda Sousa Régis, 60, o
ônibus foi escolhido porque ela tem a Carteira do Idoso, que dá descontos ou
gratuidade no transporte coletivo interestadual a quem tem 60 anos ou mais e
renda inferior a dois salários mínimos.
Em cada veículo, são reservadas duas vagas para
quem tem o benefício e, nesta viagem, Raimunda é uma delas.
Nascida em Petrolina (PE), ela mora em Curitiba
(PR) há 40 anos e espera encontrar uma grande festa quando desembarcar em sua
cidade natal. “Faz 24 anos que não volto pra lá”, diz. “A
família inteira está me esperando.”
O casal Fernanda, 42, e José Schwartzhaupt, 41,
mora em em Alvorada (RS) e tem o Passe Livre, benefício do governo federal que
dá direito à gratuidade em ônibus interestaduais para portadores de deficiência
que tenham renda familiar per capita de até um salário mínimo mensal (ele não
tem uma perna e ela tem restrição de mobilidade de um lado do corpo).
Com pouco tempo de férias, o passeio será bem
curto. Planejam ficar só três dias em Fortaleza e voltar. “Estamos
passando a maior parte das férias dentro do ônibus”, afirma José.
VAI ENCARAR?
Pelotas-Fortaleza saídas às quintas, às 20h
Previsão de chegada domingo, às 23h
Quanto R$ 742,15
Fortaleza-Pelotas saídas às sextas, às 8h
Previsão de chegada segunda-feira, às 13h25
Quanto R$ 791,42


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