Empresário de ônibus Raimundo Ferreira, empreendedor da cidade de Cajazeiras, morre aos 88 anos no Ceará

O empresário de ônibus se declarava “um apaixonado” por Cajazeiras
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Por Ônibus Paraibanos com informações de Diário do Sertão – Phillipe Figueiredo
Imagens Acervo histórico Paraíba Bus Team

O empresário Raimundo Correia Ferreira, natural de Várzea Alegre, no Ceará, faleceu nesse domingo (16), aos 88 anos de idade, na cidade de Juazeiro do Norte, Ceará.

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Intuição certeira

Para entendermos melhor esta história, vamos conhecer um pouco do Sr Raimundo Ferreira. Nascido no ano de 1931, na cidade de Várzea Alegre – CE, região do carirí Cearense, inicia seus estudos na sua cidade natal, e em seguida muda-se para Campina Grande onde conclui seus estudos no colégio Alfredo Dantas em 1949. Porém desde que saiu da sua Várzea Alegre, determinado, Raimundo Ferreira alimentava o sonho de ser um grande empresário contrariando o pensamento da juventude de sua época, onde a maioria sonhava com um diploma de médico, advogado ou engenheiro. Assim, quando retornou de Campina Grande instalou uma difusora com alto-falantes e uma pequena indústria em Várzea Alegre.

Não satisfeito, Raimundo almeja caminhos mais altos e com astúcia e espírito empreendedor características de sua personalidade, segue para a cidade do Crato e num tino comercial adquire um ônibus e associa-se a Timóteo Bezerra dono da Empresa Várzea Alegrense fundada em 1949, ligava o Ceará ao sul do país e a as principais cidades do Nordeste. A
Empresa Várzea Alegrense era uma das maiores empresas Cearenses, e foi adquirida posteriormente pela Gontijo. A sociedade entre Raimundo e Bezerra dura até 1957, e em um golpe de sorte decide mudar-se para a Paraíba, mais precisamente Cajazeiras onde sua vida muda completamente.

Cajazeiras: Amor a primeira vista!

Atraído pelo movimentado centro comercial pelas indústrias e algodoeiras, como a J. Matos S.A; a firma da família Abrantes; Representação da SAMBRA e outras pequenas empresas de extração de óleo do algodão e torrefação de Café, Raimundo Ferreira viu na terra dos Rolins a possibilidade de fazer bons negócios. E fez!

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O ano era 1958, e o Brasil vivia na euforia dos anos dourados do governo Juscelino Kubitschek com o lema 50 anos em cinco e para Raimundo, que era amigo de JK, não foi diferente. Em homenagem a maior representação deste período, que
foi a construção de Brasília, o sonhador funda a Viação Brasília Ltda, e inicialmente com três ônibus e faz a linha Cajazeiras x São Paulo saindo uma vez por semana. A sua paixão por Cajazeiras era tanta, que ele construiu um dos primeiros, se não o primeiro terminal rodoviário da Paraíba,antes mesmo que João Pessoa e Campina Grande. Foi também o primeiro terminal rodoviário vertical com hotel, área de lazer, lanchonetes e lojas e denominava-se Edifício Antônio Ferreira. Fora o terminal rodoviário que construiu com recursos próprios, outras benfeitorias foram feitas na cidade de Cajazeiras.

Um amor não correspondido

Na sua rápida passagem pela política, tentou duas vezes, sem sucesso, ser prefeito de Cajazeiras. Em 1963, pelo PSB, entrou numa disputa ferrenha com Chico Rolim, Acácio Braga Rolim e José Leite Furtado, amargando um 3º lugar com 2.120 votos obtidos. Após o golpe militar de 1964, Raimundo Ferreira filiou-se ao MDB e, na eleição municipal de 1969, travou, mais uma vez, uma guerra pela prefeitura cajazeirense com o candidato da ARENA, Epitácio Leite Rolim. O resultado foi uma esmagada e sofrida derrota, com o seu opositor obtendo 6.548 votos, e Raimundo Ferreira apenas 2.324 votos. Uma maioria prol Epitácio de 2.324 sufrágios. Uma humilhação e vergonha para um homem que, modestamente, vinha investindo tanto no progresso da cidade. Desgostoso por não ter da população cajazeirense uma resposta positiva e um reconhecimento pelo muito que vinha fazendo pela cidade, Raimundo Ferreira deu adeus a política partidária e passou a se dedicar exclusivamente a atividade empresarial.

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Fixou residência na região cearense e só aparecia em cajazeiras para ver como andava as suas empresas. Raimundo gostava de Cajazeiras, mas a cidade não gostava dele .

Viação Brasília

Viação Brasília

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A primeira linha da empresa como foi mencionado acima, foi a Cajazeiras x São Paulo ainda nos anos 50. Nos anos
60 mais uma linha é criada e desta vez, é a Cajazeiras x Brasília,nova capital federal e que faz jus ao nome da empresa. Não se sabe por qual motivo, se por desgosto da cidade que tanto amou ou estratégico,em 1974, Raimundo Ferreira transfere a sede e toda estrutura da empresa para a cidade de Patos-PB e passando a denominar-se Viação Brasília Transporte e Turismo Ltda vende a linha Cajazeiras X Brasília para a Planalto de Campina Grande que naquela época direciona seu foco para Brasília,saindo do eixo Rio-SP. e cria a linha Patos X RJ que logo após foi vendida para a Itapemirim.Restava somente a Cajazeiras x São Paulo que a partir da transferência para Patos,passa a denominar Patos x São Paulo. Esta linha até hoje sai de Patos, e passa pelo Vale do Piancó e segue para Cajazeiras.

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Em 1983, a Gontijo adquire a Varzea Alegrense e a Viação Rio Negro também Cearense e ligava municípios cearenses entre si e a Fortaleza. Com o projeto de expansão no Nordeste, a Gontijo queria empresas ou linhas que ligava o nordeste ao sul do país e nesse contexto,o destino colocou dois homens no mesmo caminho:Abílio Gontijo e Raimundo Ferreira. No ano de 1987 a Gontijo vende para Raimundo a Rio Negro e na negociação, a Linha Patos x São Paulo é repassada para Gontijo. A Viação Brasília encerra sua história no transporte interestadual bem como na Paraíba. Sua estrutura é transferida para Juazeiro do Norte onde passa a fazer linhas urbanas e interurbanas ligando cidades do sul cearense a Juazeiro do Norte e ao Crato.

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Acordo com a Guanabara

A Guanabara desde que foi fundada, queria expandir seu território começando inicialmente pelo Ceará e em especial pelas empresas do GERF: RÁPIDO JUAZEIRO e RIO NEGRO. Em 1998 segundo fontes na época, ficou acordado entre a Guanabara  e o GERF que ao vender as empresas, somente a Guanabara teria preferência de compra e também ficou acertado que isto só ocorreria se Raimundo Ferreira viesse a falecer. Entretanto, a Guanabara acabou adquirindo as duas empresas em 2005 sem que Raimundo falecesse.

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Barbalha

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Com a venda, restava somente a Viação Brasília, que encerrou suas atividades em 2009 saindo de forma triste, bem diferente do que foi em outras épocas. Essa é a homenagem a este grande homem que em épocas difíceis desbravou com coragem e determinação.