A crise no Grupo Itapemirim ganha um novo capítulo a cada dia e se transforma na maior ameaça ao principal projeto do segundo mandato do prefeito Felicio Ramuth (PSDB), o novo sistema de transporte de São José dos Campos.
Classificado como inovador, ousado e complexo, o novo sistema de transporte tem no Grupo Itapemirim o vencedor dos dois lotes de operação dos ônibus na cidade, além da Linha Verde.
A empresa venceu a licitação no ano passado, assinou contrato e tem que operar o novo sistema a partir de 15 de maio, mas segue envolvida em escândalos cada vez mais robustos que ameaçam a operação dos ônibus.
Com isso, o buraco em que vai entrando a empresa de ônibus afeta diretamente o cumprimento da bandeira de Felicio do segundo mandato e a vida de milhares de passageiros em circulação na cidade. Em média, o sistema teve 4,2 milhões de usuários atendidos por mês no ano passado.

“O novo desenho do transporte coletivo vai trazer um maior conforto, quantidade de viagens, novos veículos para a população. O meu desejo é concluir todo esse processo e ser um exemplo em transporte público onde a Linha Verde tem também um grande peso”, disse Felicio, em julho do ano passado, em entrevista a O VALE.
NOTIFICAÇÃO
Nesta terça-feira (4), o discurso do prefeito de São José dos Campos com relação ao transporte mudou e o otimismo deu lugar à preocupação.
O tucano gravou um vídeo e postou nas redes sociais para informar que a prefeitura emitira a primeira notificação à Itapemirim Group Ltda por descumprimento do contrato do transporte coletivo.
De acordo com Felicio, a Itapemirim deveria ter apresentado na última segunda-feira (3) o contrato de aquisição dos novos ônibus para operar o sistema em São José dos Campos.
O edital prevê uma frota de 543 novos veículos nos dois lotes, sendo 399 deles de grande porte. No entanto, a Itapemirim não apresentou o contrato de aquisição de nenhum veículo.
“Hoje emitimos a primeira notificação à Itapemirim por descumprimento da apresentação do contrato de aquisição dos ônibus a serem utilizados na nova concessão do sistema de transporte público. A empresa tem 72 horas para prestar esclarecimentos”, disse o prefeito de São José, em vídeo nas redes sociais.
O mandatário já admite a rescisão do contrato caso a Itapemirim não apresente o contrato de compra dos novos ônibus, conforme prevê a licitação.
PROBLEMAS
Desde a segunda quinzena de dezembro de 2021 a Itapemirim vem colecionando problemas em sequência. Começou com a interrupção temporária da ITA (Itapemirim Transportes Aéreos) e de todos os seus voos, deixando milhares de passageiros sem transporte no país.
O caso levou o Ministério Público de São Paulo a pedir à Justiça que bloqueie os bens do empresário Sidnei Piva de Jesus, dono do Grupo Itapemirim, e declare a falência da Viação Itapemirim e da ITA.
A promotoria afirma que há indícios de uma série de irregularidades cometidas por Piva e gestores das empresas de modo a descapitalizar a Itapemirim e usar os recursos da empresa de ônibus, em recuperação judicial, para constituir a agora suspensa linha aérea.
CANCELAMENTO
Em Nova Friburgo (RJ), a Itapemirim abandonou um contrato para operar 91 ônibus após assinar contrato emergencial com a prefeitura. O documento foi assinado em 25 de junho de 2021, com validade de 12 meses, mas não foi cumprido.
O calote é investigado por uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Câmara de Nova Friburgo, que apresentou relatório em dezembro.
Para analistas do setor rodoviário ouvidos por O VALE, há o risco de o mesmo problema ocorrer em São José, em razão da quantidade de questionamentos, dúvidas e indícios de irregularidades que rondam a Itapemirim.
O primeiro indício de problema surgiu com o descumprimento do contrato entre a Itapemirim e a Prefeitura de São José dos Campos.
COBRANÇA
O Sindicato dos Condutores do Vale do Paraíba cobrou posicionamento da Prefeitura de São José dos Campos diante dos problemas do Grupo Itapemirim. A entidade disse estar preocupada que aconteça na cidade o mesmo que em Nova Friburgo.
“O Grupo Itapemirim foi flagrado desrespeitando direitos trabalhistas e abandonando à própria sorte o serviço de transporte público em outras cidades do país”, apontou o sindicato.
OUTRO LADO
Procurado, o Grupo Itapemirim negou que a suspensão temporária no setor aéreo tenha impacto no contrato com São José dos Campos, mas não comentou a notificação da prefeitura por descumprimento do contrato.
“A suspensão temporária das operações aérea não gera nenhum impacto no plano de negócio para o transporte urbano em São José dos Campos. O Grupo Itapemirim segue com o seu planejamento, conforme contrato assinado com a prefeitura municipal.”
Esta reportagem integra o ‘Dossiê Itapemirim’, série de matérias especiais que investiga a empresa de transportes rodoviários vencedora da licitação em São José dos Campos.
Fonte: O Vale