Os desafios dos ônibus elétricos – por Francisco Christovam

São Paulo avança na redução de emissões com adoção de ônibus elétricos, mas enfrenta desafios significativos.
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São Paulo está na vanguarda da transformação no transporte público, com a cidade tomando medidas audaciosas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) em conformidade com os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. Entre os principais acordos assinados estão o Protocolo de Kyoto, o Acordo de Paris e o Pacto de Glasgow, que visam mitigar os impactos ambientais e promover a sustentabilidade. Contudo, a jornada para uma frota de ônibus urbanos mais limpa está repleta de desafios.

De acordo com um recente relatório da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), os ônibus urbanos a diesel representam menos de 1% das emissões totais do Brasil. No entanto, a alta concentração dessas emissões em áreas urbanas, especialmente em grandes cidades como São Paulo, destaca a importância de enfrentar o problema para melhorar a qualidade do ar e a saúde pública.

A cidade de São Paulo tem sido pioneira na implementação de medidas para reduzir essas emissões. Em 2018, a Lei Municipal nº 16.802 estabeleceu metas ambiciosas para a diminuição das emissões de CO2, com a meta de uma redução de 50% até 2028 e uma eliminação total até 2038. A legislação impulsionou a substituição gradual da frota de ônibus a diesel por alternativas mais sustentáveis.

Entre as soluções em consideração estão os ônibus elétricos, movidos por baterias ou células de hidrogênio, e aqueles que utilizam biometano ou biocombustíveis. Apesar do potencial dos ônibus elétricos, a implementação em larga escala apresenta desafios substanciais. A instalação de pontos de recarga e a adaptação das garagens para suportar a nova infraestrutura são necessárias e demandam investimentos significativos. Além disso, o custo operacional dos ônibus elétricos é cerca de três vezes superior ao dos veículos a diesel, tornando a viabilidade financeira uma preocupação.

São Paulo já enfrenta problemas relacionados a essa transição. A proibição da compra de novos ônibus a diesel, instaurada em 2022, resultou na necessidade urgente de aquisição de 2.600 ônibus elétricos até o final deste ano. No entanto, a falta de coordenação entre as concessionárias de transporte e a empresa de energia levou a atrasos na instalação da infraestrutura essencial para operar os novos veículos.

Para superar esses obstáculos, é crucial que o Brasil desenvolva um plano nacional de renovação e descarbonização da frota de ônibus urbanos. Esse plano deve equilibrar a maturidade das tecnologias disponíveis com a capacidade da indústria nacional, permitindo uma transição gradual que adapte empresas e cidades às novas realidades. A ampliação das linhas de crédito e a promoção de parcerias público-privadas também são fundamentais para facilitar os investimentos necessários e acelerar o processo de transição.

O Diretor Executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Francisco Christovam, destaca a importância de um planejamento operacional detalhado. “A implementação bem-sucedida de uma frota de ônibus elétricos requer uma abordagem estratégica, incluindo a definição dos tipos de veículos, a localização dos pontos de recarga e a adaptação da infraestrutura elétrica”, afirma Christovam. “Garantir a coordenação entre todos os envolvidos e o compromisso da concessionária de energia é essencial para o sucesso desse processo.”

A medida que São Paulo continua sua jornada rumo a um transporte público mais sustentável, o modelo de financiamento compartilhado entre o setor público e privado poderá ser a chave para superar os desafios financeiros e operacionais. Essa colaboração pode garantir que os projetos de descarbonização sejam realizados de forma mais eficiente e com menor risco de atrasos.

A transformação do transporte público em São Paulo é um exemplo de como grandes cidades podem liderar a luta contra as mudanças climáticas, mas também destaca a necessidade de um planejamento cuidadoso e da cooperação entre diferentes setores para alcançar metas ambiciosas de sustentabilidade.

Francisco Christovam é Diretor Executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Vice-Presidente da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado de São Paulo (FETPESP) e da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP).

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