A história do Expresso Guarabirense remonta à década de 1960, quando Gustavo Amorim fundou a empresa, então formalmente conhecida como Amorim e Cia Ltda., iniciando operações com linhas de ônibus entre Guarabira e João Pessoa. Ao longo dos anos 70 e 80, a Guarabirense expandiu suas operações, conectando diversas cidades no Brejo e Curimataú Paraibano, como Solânea, Alagoa Grande, Dona Inês, Jacaraú, Itapororoca, Araruna e Campina Grande. Em seu auge, a empresa operava 28 rotas intermunicipais e atendia milhares de passageiros, que, frequentemente, enchiam os ônibus rumo à capital paraibana.
No início dos anos 90, o Expresso Guarabirense contava com uma frota de 44 ônibus modernos, incluindo veículos Scania e Mercedes-Benz. A empresa estava no auge, comandada pela família Amorim, e se destacava entre outras potências do setor, como a Real, a Transparaíba, a Bela Vista e a Expresso Nacional de Luxo. A influência da Guarabirense e de seus proprietários era significativa, e sua presença no estado parecia consolidada. No entanto, o falecimento de Gustavo Amorim em 1992 foi um ponto de virada crucial para a empresa, que passou a enfrentar dificuldades financeiras e desafios de gestão.
Os primeiros sinais de declínio
Com a morte do fundador, a administração passou para seus herdeiros, que, sem a mesma experiência ou visão, falharam em enfrentar os novos desafios que surgiram. A empresa começou a perder terreno, em grande parte, devido ao aumento do transporte clandestino. Pequenos transportadores, sem licenciamento adequado, começaram a competir com as rotas da Guarabirense, oferecendo preços mais baixos e opções de horários mais flexíveis. Enquanto o transporte clandestino prosperava, a Guarabirense enfrentava uma série de obstáculos, desde a alta carga tributária até a burocracia estatal, que a impediram de reagir com eficácia.
No final dos anos 90, a qualidade dos serviços da Guarabirense começou a cair. A frota envelhecida, sem manutenção adequada, passou a apresentar falhas constantes. Ônibus quebrados e viagens canceladas tornaram-se cada vez mais comuns. Em 2002, a situação agravou-se, e os passageiros começaram a evitar a empresa. A Guarabirense, que antes dominava a região, agora estava prestes a colapsar, e o grupo A. Cândido chegou a considerar a aquisição da empresa. No entanto, as dívidas exorbitantes afastaram o interesse de investidores, e a empresa seguiu seu lento caminho de decadência.
A crise de 2004: o ponto final
Em setembro de 2004, a crise da Guarabirense atingiu o ápice. Incapaz de sustentar suas operações, a empresa retirou todos os ônibus das rotas sem qualquer aviso prévio. O impacto foi imediato: passageiros ficaram desamparados, e a operação de transporte na região entrou em colapso temporário. Empresas como Transnorte, Rio Tinto e São José de Campina Grande assumiram algumas das rotas, enquanto a Boa Viagem ficou com outras, até sua própria crise em 2006. A saída repentina da Guarabirense abriu espaço para uma onda de transporte clandestino, que, até hoje, atende parte da demanda da região de forma precária e insegura.
Com a falência da Guarabirense, 228 funcionários, entre motoristas, cobradores, mecânicos e funcionários administrativos, foram demitidos. A empresa, que um dia fora uma das maiores forças de transporte rodoviário do estado, havia se transformado em um símbolo de má gestão, falta de planejamento e ineficiência.
O transporte clandestino e a falta de ação das autoridades
O declínio da Guarabirense traz à tona uma discussão mais ampla sobre o papel do transporte clandestino e a falta de regulamentação e fiscalização do poder público. Durante anos, a presença de operadores ilegais não apenas minou a receita da empresa como também ofereceu uma alternativa de qualidade questionável e segurança duvidosa aos passageiros. O governo estadual, por sua vez, foi omisso na criação de uma estratégia eficaz para combater o transporte ilegal. Enquanto empresas licenciadas enfrentam uma alta carga tributária e obrigações regulamentares, os clandestinos operam sem restrições, muitas vezes, à vista de todos.
Para os herdeiros da família Amorim, o fracasso da Guarabirense não foi apenas uma questão de perda financeira, mas também de herança. Após a morte de Gustavo Amorim, os novos gestores se mostraram despreparados para enfrentar os desafios que se intensificavam com o tempo. A falta de investimentos em manutenção e renovação da frota contribuiu para a situação precária dos veículos, que passaram a operar com problemas mecânicos recorrentes, cancelamentos de viagens e uma percepção negativa da marca.
A imagem que resta
Em uma garagem desativada, cercada por mato alto e vandalismo, ainda era possível encontrar restos da frota da Guarabirense. Ônibus sucateados, como o icônico Diplomata 350, estão parados, corroendo-se ao sabor do tempo e da falta de manutenção. Hoje nem isso existe mais. A imagem dessas relíquias, abandonadas, era o retrato final da empresa que, em seus dias de glória, mobilizava milhares de pessoas em um bege e azul característicos, cruzando estradas e conectando cidades.
Em 2011, os fotógrafos Marcos Filho e Júlio Barboza registrou a triste imagem de um dos últimos ônibus da frota, agora uma sombra do que um dia foi. O site do Detran-PB ainda mostra que o último emplacamento ocorreu em 2003 e que, assim como outros veículos da empresa, o ônibus encontra-se penhorado. Aqueles que, um dia, testemunharam a pujança da Guarabirense, recordam-se dos momentos em que ela reinava quase absoluta no transporte regional.
No documento abaixo pode ser visto que o 05.23 ainda se encontra em nome da razão social da Guarabirense: Amorim & Cia. LTDA.
O legado e as lições da Guarabirense
Hoje, as rotas que um dia pertenciam à Guarabirense estão divididas entre outras empresas, como Rio Tinto e São José. O setor de transporte na região continua a enfrentar desafios com o transporte clandestino, que se estabeleceu com força e persiste como uma alternativa — embora limitada em segurança e regularidade. A Guarabirense deixou um legado, mas também uma lição valiosa sobre a necessidade de inovação, adaptação ao mercado e responsabilidade na gestão de negócios.
A Guarabirense não foi apenas uma empresa de ônibus; ela era parte da história da Paraíba. Seus veículos, com cheiro de óleo diesel e o ronco inconfundível dos motores, faziam parte do cotidiano de muitas pessoas, conectando cidades e famílias. No entanto, sem o devido apoio estatal contra o transporte clandestino, sem uma estratégia de renovação e sem uma gestão eficiente, até mesmo as maiores empresas podem cair.
A história da Guarabirense, do seu auge ao seu declínio, é um alerta para o setor de transporte e para as autoridades: sem uma atuação conjunta para regulamentar, fiscalizar e apoiar as empresas que operam legalmente, outras histórias de declínio podem se repetir. Para aqueles que viveram os dias de glória da empresa, restam as lembranças de um tempo em que o Expresso Guarabirense foi, de fato, uma gigante do brejo paraibano.
Para finalizar, relembre a vinheta que era divulgada em uma rádio de Guarabira quando os ônibus partiam da cidade do Brejo Paraibano.
Imagens/vídeo: Acervo histórico Ônibus & Transporte
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