Praticamente extintos do sistema de transporte coletivo de Belo Horizonte, Minas Gerais, os cobradores de ônibus voltam ao centro do debate político municipal. Um projeto de lei protocolado no início de março na Câmara Municipal de Belo Horizonte propõe não apenas a obrigatoriedade da função nos coletivos, mas também a proibição de que motoristas realizem a cobrança da passagem.
A proposta será analisada nas próximas semanas pela Comissão de Legislação e Justiça, mas enfrenta resistência entre os vereadores, que majoritariamente enxergam a medida como um retrocesso.
O projeto é de autoria do vereador Neném da Farmácia (Mobiliza), que destaca no texto as atribuições do cobrador, como a venda de passagens e até a prestação de primeiros socorros. Segundo o parlamentar, “a retirada dos cobradores trouxe uma série de problemas para a qualidade do serviço” e a reintegração da função é essencial para a segurança e eficiência do transporte público.
Outro ponto levantado pelo texto é o acúmulo de funções dos motoristas, que dirigem e realizam a cobrança das passagens. Para Neném da Farmácia, isso compromete a segurança viária, pois desvia a atenção dos condutores, aumentando os riscos de acidentes.
Resistência e visões contrárias
A proposta, no entanto, enfrenta oposição dentro da Câmara. Vereadores ouvidos pela reportagem do jornal O Tempo, a maioria sob anonimato, consideram a medida ultrapassada e contrária à tendência de digitalização do sistema de transporte. O pagamento eletrônico é visto como solução mais moderna, trazendo comodidade para os passageiros e transparência na gestão das tarifas.
“As empresas já se organizaram sem os cobradores, e seu retorno é inviável no atual cenário”, afirmou um parlamentar.
Outro vereador pontuou que a cidade caminha para eliminar o uso de dinheiro em espécie nos ônibus, o que facilitaria a rotina dos motoristas.
Por outro lado, a bancada de esquerda na Câmara sinaliza apoio à iniciativa. A vereadora Cida Falabella (PSOL) afirmou que ainda precisa avaliar os detalhes da proposta, mas que, em princípio, sua bancada é favorável ao retorno dos cobradores.
A Comissão Especial de Estudo, que trabalha na formulação de um novo contrato para o transporte público de Belo Horizonte, indicou que não há previsão de discutir a volta dos cobradores. Membros da comissão afirmaram que a prioridade tem sido a ampliação da bilhetagem eletrônica e a integração dos sistemas de pagamento entre Belo Horizonte e cidades da região metropolitana.
Até o momento, o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH) e a Prefeitura de Belo Horizonte não comentaram sobre a proposta.
Imagem: Weslley Silva
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