No coração dos anos 1980, quando viajar de ônibus ainda era uma experiência que misturava aventura e encanto, um nome se destacava nas estradas paraibanas: TransPARAÍBA. Nascida a partir da venda da tradicional Empresa Patoense, de Patos, a nova operadora surgiu com o propósito de modernizar o transporte intermunicipal e conquistar o público sertanejo com conforto, pontualidade e inovação.

As publicações da época nos jornais O Norte e Correio da Paraíba celebravam a chegada da “Nova Frota 1988”, composta por ônibus modernos, muitos deles sobre chassis Mercedes-Benz e Scania, com carrocerias de linhas elegantes, amplos bagageiros e poltronas confortáveis — um verdadeiro salto tecnológico para os padrões do interior nordestino.

Em anúncios de página inteira, a empresa estampava slogans marcantes como “TransPARAÍBA apresenta sua nova frota 1988”, “Este é o ônibus certo e ponto final” e “Conforto em dose dupla”, promovendo seus novos veículos Double Decker com carroceria Thamco Gemini sobre chassi Scania K-112 TL. Eram campanhas ousadas para a época, que colocavam a marca entre as mais modernas do setor regional.

TransPARAÍBA: da inovação ao sucesso nas estradas
Durante os anos 1980 e início dos 1990, a TransPARAÍBA viveu seu auge.

A empresa mantinha uma operação robusta no Terminal Rodoviário Severino Camelo, em João Pessoa, com 16 linhas regulares que atendiam cidades estratégicas do Brejo e Sertão, como Cajazeiras, Sousa, Catolé do Rocha, Patos, Princesa Isabel, Bonito de Santa Fé, Coremas e Conceição.

Em 1992, os horários fixos de partidas revelavam o dinamismo da operação: saídas desde as 5h da manhã até as 22h, com rotas via Brejo do Cruz, Jericó, Guarabira, Pilar, Cajá e Una — além de um serviço Executivo com ar-condicionado nas sextas-feiras, rumo a Brejo das Freiras. Era um diferencial que traduzia o lema impresso nos anúncios da época:
“Ônibus TransPARAÍBA – O embarque com prazer.”

Os bastidores de uma venda histórica
Em 1995, um episódio marcante mudaria o rumo da TransPARAÍBA e do transporte rodoviário nordestino: a empresa foi vendida para o grupo de Jacob Barata, um dos maiores nomes do setor no Brasil.

A negociação foi cercada de histórias curiosas — entre elas, o relato de um motorista que presenciou a chegada de Barata em seu próprio avião, diretamente a João Pessoa, seguindo para a garagem em Bayeux.
Vestido de forma simples, com calça jeans e camisa polo, o empresário foi inicialmente subestimado por funcionários que duvidavam de sua condição financeira. Mas o desfecho foi surpreendente: Jacob Barata adquiriu a TransPARAÍBA, sua frota de 56 ônibus, a garagem e a unidade de cargas e encomendas, transformando tudo em Expresso Guanabara, que marcaria o início de sua expansão pelo Nordeste.


O declínio e o fim de uma era
Com a dissolução da sociedade original, a TransPARAÍBA passou a enfrentar problemas de gestão e manutenção. Políticos influentes do interior recebiam talões de passagens e nem sempre efetuavam o pagamento, o que gerou prejuízos constantes. A frota envelheceu, a limpeza e a conservação caíram, e o excesso de passageiros se tornou frequente — relatos da época falam de viagens com “20 a 25 pessoas em pé”, e até animais sendo transportados no bagageiro.

Além disso, parte dos recursos da empresa teria sido investida para financiar os custos das competições automobilísticas de Waldeno Brito Filho, na Stock Car e Fórmula Fiat, o que agravou ainda mais a crise financeira.

Por volta de 1999, a TransPARAÍBA encerrou definitivamente suas atividades, deixando nas estradas apenas a lembrança de uma marca que fez história.
Um legado que o tempo não apaga
Mesmo décadas após seu desaparecimento, o nome TransPARAÍBA ainda desperta nostalgia entre motoristas, passageiros e entusiastas do transporte rodoviário.

Suas cores, seus slogans e suas propagandas ousadas — com frases como “Esta empresa anda na linha” — continuam vivas na memória de quem viajou em seus ônibus ou via seus anúncios estampados nos jornais.



Hoje, as rotas que um dia foram da TransPARAÍBA são operadas por empresas como Expresso Guanabara e Viação Rio Tinto, mas o sentimento de saudade permanece.
Para muitos, a TransPARAÍBA foi mais do que uma empresa de ônibus — foi um símbolo de modernidade e orgulho paraibano, que uniu o litoral ao sertão e deixou sua marca na história do transporte regional.

Imagens: Acervo histórico Ônibus & Transporte
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