Poucas empresas deixaram uma marca tão forte no imaginário do sertanejo que viajava pelas estradas da Paraíba quanto a Empresa São José de F. Coura & Cia. Ltda. Fundada em 27 de junho de 1974, a organização com sede em Sousa (PB) tornou-se, ao longo da década de 1980, um dos nomes do transporte intermunicipal no Sertão paraibano.
É importante destacar que a Empresa São José aqui mencionada não possui nenhuma relação com a Viação São José, sediada em Esperança (PB).
Apoio político e reconhecimento no sertão paraibano
Reportagens publicadas em 23 de fevereiro de 1980 pelo jornal O Norte, de João Pessoa, revelam um episódio emblemático na história da empresa: prefeitos de várias cidades do Sertão Paraibano enviaram uma carta ao então governador Tarcísio de Miranda Burity, solicitando a liberação definitiva da linha Cajazeiras–Conceição, operada pela Empresa São José.
O documento, assinado pelos prefeitos Francisco Matias Rolim (Cajazeiras), Lourival Dias de Oliveira (Monte Horebe), Tiburtino de Almeida (Bonito de Santa Fé) e Venceslau Alves Neto (Conceição), destacava a importância da companhia para a integração regional e o desenvolvimento social do Sertão.
Os prefeitos afirmavam que a qualidade dos serviços e a regularidade das viagens oferecidas pela empresa eram fundamentais para o progresso das populações sertanejas, que enfrentavam à época estradas precárias e escassez de opções de transporte coletivo.
Um dos trechos mais expressivos da carta publicada pelo jornal afirmava que a Empresa São José “tem sido realmente responsável pelo surto de progresso a que se vem condicionando essa organização de transportes coletivos, com pouco menos de 10 anos de existência”.
O tempo das grandes frotas
As edições de jornais da época também registram a modernidade da frota da Empresa São José. Imagens publicadas mostram ônibus Mercedes-Benz e Nielson Volvo, com pintura característica e o nome “São José” em destaque nas laterais.
Esses veículos simbolizavam um novo padrão de conforto e confiança para quem viajava pelo interior paraibano, especialmente nas linhas ligando Cajazeiras, Conceição, Monte Horebe, Bonito de Santa Fé e Sousa.
Expansão e inauguração da linha João Pessoa–Sousa
Em março de 1989, quase uma década após o episódio de apoio político, a Empresa São José voltou às páginas dos jornais. A companhia inaugurava oficialmente uma nova linha intermunicipal ligando João Pessoa a Sousa, passando por Campina Grande, Soledade, Santa Luzia, Patos e Pombal.

A programação da festa de lançamento, publicada em 4 de março de 1989, incluiu desfile da frota pela cidade de Sousa, missa em ação de graças, visitas às instalações da empresa e um show do cantor Alceu Valença, marcando um momento de apogeu para a transportadora.
Na ocasião, o jornal O Norte exaltou que a “Empresa São José conta com uma boa frota de modernos ônibus”, reforçando a imagem de modernidade e prestígio que a companhia mantinha junto à população sertaneja.
Polêmicas e denúncias no final da década
Entretanto, ainda em 1989, o nome da Empresa São José voltaria a aparecer nos jornais, desta vez em tom de denúncia.
Uma reportagem do mesmo periódico relatava que a transportadora estava sendo acusada de cometer várias infrações no transporte intermunicipal, supostamente descumprindo regras da concessão e sendo multada por fiscais do Departamento de Estradas e Rodagens (DER) nas cidades de Pombal, Patos e Campina Grande.

O texto indicava que havia disputas políticas e empresariais envolvendo a São José e a Transparaíba, outra empresa que operava linhas semelhantes, porém com maior extensão.
A matéria citava ainda reclamações sobre o preço das passagens e o não cumprimento de horários em determinados trechos, embora também reconhecesse o esforço da empresa em ampliar a frota e atender mais localidades.
Um retrato de uma era
A história da Empresa São José de F. Coura & Cia. Ltda. reflete não apenas a evolução do transporte intermunicipal paraibano, mas também o espírito empreendedor de um período em que o ônibus era o principal elo entre as cidades do interior e a capital.
Das estradas de barro do Sertão aos longos trajetos até João Pessoa, a empresa marcou gerações de passageiros e consolidou-se como símbolo de uma época em que viajar significava mais do que se deslocar — significava conectar histórias, famílias e sonhos.
Atualmente, segundo registros oficiais, a Empresa São José de F. Coura & Cia. Ltda.., é considerada “inapta” pela Receita Federal desde 2 de outubro de 2018, encerrando oficialmente um ciclo de mais de quatro décadas de existência e deixando como legado uma lembrança viva na memória do povo sertanejo.
Fontes consultadas:
- Jornal O Norte, edições de 23 de fevereiro de 1980 e de março de 1989
- Arquivo histórico impresso — acervo pessoal
- Dados cadastrais da Receita Federal do Brasil
Imagens: Acervo histórico Ônibus & Transporte
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