O ano era 1961, e o mercado de transporte rodoviário brasileiro estava prestes a testemunhar uma revolução estética e funcional. Nesse contexto, Harold Nielson, então diretor-superintendente da Nielson, lançava um modelo que entraria para a história: o Diplomata. Com o inovador teto em dois níveis e detalhes únicos inspirados em modelos norte-americanos, o Diplomata não apenas consolidou a identidade da Nielson como fabricante de carrocerias rodoviárias, mas também influenciou os rumos do setor de ônibus no país. Esta é a história do Diplomata, um ícone que redefiniu o conceito de transporte rodoviário no Brasil.
O início do Diplomata: estilo e função em harmonia
O lançamento do Diplomata foi marcado por características inovadoras, que o diferenciavam dos modelos existentes. Ainda que a Cermava tenha sido pioneira no desenvolvimento de ônibus rodoviários nacionais, o Diplomata trouxe um toque especial: a grade traseira de largos perfis de alumínio, inspirada nos ônibus Flxible operados pela Expresso Brasileiro na rota Rio-São Paulo. Este detalhe estético e funcional cobria os para-brisas e as últimas janelas laterais, algo até então inédito no Brasil.
Além disso, o interior do Diplomata oferecia o que havia de mais moderno na época: poltronas reclináveis, compartimento isolado para o motorista e banheiro. Externamente, a carroceria era revestida com chapas frisadas de alumínio anodizado, e o modelo apresentava um design robusto, com colunas inclinadas que logo se tornaram uma marca registrada. O Diplomata rapidamente se destacou no mercado e definiu o estilo da Nielson para as próximas décadas.
Sucesso e expansão: o Diplomata consolida a marca Nielson
O sucesso do Diplomata foi tanto que, em pouco tempo, a Nielson decidiu focar exclusivamente na produção de carrocerias rodoviárias, abandonando a fabricação de carrocerias para caminhões e camionetas. Em 1964, o modelo Diplomata recebeu uma versão para chassi FNM, e, em 1966, foi apresentada a mais aclamada de suas versões no V Salão do Automóvel, sobre chassi Scania. Este lançamento reforçou a posição da Nielson como uma das principais fornecedoras de ônibus rodoviários no Brasil.
Com o passar dos anos, o Diplomata foi aprimorado em estilo e acabamento, mantendo-se alinhado às necessidades dos operadores e ao avanço tecnológico. O modelo apresentado em 1968, por exemplo, trouxe inovações de conforto e segurança, como tampas de ventilação no teto, poltronas de veludo sintético com cintos de segurança, sistema de som, geladeira e janelas de emergência. Cada nova versão demonstrava o cuidado da Nielson com o aprimoramento de seus produtos e a atenção aos detalhes.
Evoluções estéticas e funcionais: Diplomata como sinônimo de inovação
Ao longo dos anos 1970, o Diplomata continuou evoluindo esteticamente. Em 1970, o modelo passou por uma reformulação completa, ganhando um design mais leve e elegante. O aspecto de sofisticação foi ampliado com o uso de fibra de vidro em diversas partes da carroceria, como o capô do motor, as caixas de faróis, o painel e o banheiro. Uma nova grade foi incorporada, facilitando o acesso para manutenção, e o desnível no teto, marca registrada do modelo, foi suavizado para atender às tendências estéticas da época.
Em 1974, o modelo recebeu uma nova grade com barras verticais e faróis duplos na vertical, dando um toque de modernidade. Em 1976, mais alterações foram feitas: a dianteira e a traseira ganharam linhas verticais, o teto passou a ter pequenos degraus, e o modelo foi equipado com um bar e som ambiente. Essas inovações estéticas e funcionais tornaram o Diplomata ainda mais atrativo para empresas de transporte rodoviário, consolidando seu lugar como um dos favoritos no mercado.
A expansão e a consolidação da Nielson no mercado nacional
Mesmo com a popularidade do Diplomata, a Nielson ainda era uma empresa de porte modesto. Em 1971, produziu apenas 136 ônibus, representando 2,5% do mercado. No entanto, a empresa mantinha uma estratégia de crescimento cautelosa, evitando grandes riscos financeiros e garantindo um ritmo constante de investimentos. Essa abordagem permitiu à Nielson atravessar a crise do setor no início dos anos 1970 e crescer de forma consistente na década seguinte. Em 1981, a Nielson superou a marca de mil unidades anuais, atingindo 9,5% da produção nacional.
O Diplomata continuou recebendo atualizações periódicas, sempre mantendo uma estética reconhecível. Em 1979, a Nielson inaugurou novas instalações no Distrito Industrial de Joinville, marcando um novo período de modernização. A linha Diplomata de 1981 abandonou as colunas inclinadas, e o modelo ganhou janelas verticais, consolidando um novo padrão estético. Em 1982, a Nielson respondeu ao lançamento do Tribus, da Itapemirim, desenvolvendo o Diplomata Super, com um sistema de terceiro eixo pneumático, permitindo carrocerias mais longas e bagageiros maiores.
Diplomata 380: o início dos ônibus High-Deck
Em 1984, a Nielson lançou seu primeiro modelo high-deck, o Diplomata 380, para chassis Scania e Volvo de três eixos. Com 13,2 metros de comprimento e 3,9 metros de altura, o modelo oferecia bagageiros amplos e um acabamento refinado, com vidros verdes ou fumê, tampas de bagageiro com acionamento pantográfico e poltronas confortáveis. O Diplomata 380 foi bem recebido no mercado, com as primeiras unidades vendidas para países vizinhos, consolidando ainda mais a presença da Nielson no setor de transporte rodoviário.
O ano de 1985 trouxe uma ampliação da linha Diplomata, com os modelos 310, 330 e 350, que ofereciam variações de altura e mantinham o design robusto e elegante da linha. Esses novos modelos incluíam uma grade redesenhada e para-choques com seis faróis, características que reforçavam a identidade visual da Nielson.
O fim do Diplomata e o nascimento da marca Busscar
No final dos anos 1980, a Nielson iniciou uma nova fase com a criação de dois novos modelos para substituir o Diplomata: El Buss e Jum Buss. Em 1989, o Diplomata foi oficialmente retirado de linha, e a Nielson introduziu essas novas séries de ônibus rodoviários, com um design moderno e estrutura totalmente nova. O lançamento desses modelos marcou também uma mudança de marca: a Nielson passou a adotar o nome comercial Busscar, embora a razão social ainda tenha permanecido inalterada até 1998.
Legado do Diplomata e a consolidação da Busscar
O Diplomata deixou um legado duradouro no mercado de transporte rodoviário brasileiro. Suas inovações estéticas, como o teto em dois níveis e as grades de alumínio, foram pioneiras e influenciaram o design de ônibus no país. O sucesso do Diplomata consolidou a Busscar como uma das principais fabricantes de ônibus do Brasil e fortaleceu a reputação da empresa como sinônimo de qualidade e inovação.
O modelo Diplomata é lembrado até hoje como um marco da história dos ônibus brasileiros, e sua influência ainda pode ser vista nos modelos modernos. A trajetória da Nielson, culminando na transformação para Busscar, é um exemplo de inovação contínua e capacidade de adaptação às demandas do mercado, mantendo a empresa como referência no setor rodoviário e urbano.
Com informações de Busscar
Imagens: Acervo Lexicar – Acervo Ônibus & Transporte
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