Sem corredor segregado, BRTs brigam por espaço nas ruas do Grande Recife

Fonte: Jornal do Commercio Fotos: Divulgação / JC Barboza Não estava no script. Ver os BRTs (Bus Rapid Transit) brigando por espaço em seu próprio corredor, não só com ônibus convencionais, mas, ...
Fonte:
Jornal do Commercio
Fotos: Divulgação / JC Barboza

BRT2 MS

Não estava no script. Ver os BRTs (Bus Rapid Transit) brigando por espaço em
seu próprio corredor, não só com ônibus convencionais, mas, principalmente, com
o transporte individual, não era previsto ainda em 2010, quando o governador Eduardo
Campos começou a pensar em adotar o sistema, criado há 40 anos por Curitiba
(PR) e universalizado com o Transmilenio, de Bogotá (Colômbia), em 2000. A
falta de planejamento, consistência dos projetos e o atraso escabroso das obras
são os responsáveis por deixar o BRT capenga, sem o R de Rapid, rapidez. Além
de incomodar ver os imponentes BRTs espremidos entre coletivos comuns e carros,
a disputa por espaço está afetando a operação, reduzindo a velocidade dos
veículos entre 50% e 75%. Não era o planejado para o sistema usado e abusado
nos discursos governamentais como a solução para a mobilidade da Região
Metropolitana do Recife.

O
consolo é que a descaracterização dos projetos de BRT não é vista apenas no Via
Livre, nome do modelo pernambucano. É praticada, mesmo que pontualmente, em
alguns projetos. Não na proporção do Recife, é verdade. Três dos quatro mais
recentes sistemas de BRTs criados no Brasil têm trechos não segregados, mas a
diferença é que foram corredores totalmente novos, construídos e, não,
adaptados ou remendados como o Via Livre. O mais antigo, o TransOeste, no Rio
de Janeiro, inaugurado em 2011, possui oito dos 56 Km de extensão em tráfego
misto; o MOVE de Belo Horizonte, inaugurado em junho, tem 1,8 Km em que os BRTs
dividem o espaço com veículos comuns dos 17,4 Km do corredor; e o Expresso DF
Sul, de Brasília, possui 8,8 de via mista dos 36,2 Km em operação. Nesse caso,
o trecho fica no Eixão, área de preservação histórica, o que impediu a mudança
do pavimento para concreto ou qualquer tipo de segregação. Já o TransCarioca, o
segundo BRT do Rio de Janeiro, em operação desde junho, não tem nenhum trecho
misto nos seus 39 Km. Os quatro projetos tiveram a consultoria de entidades
especializadas na implantação do sistema, como a Embarq Brasil e o ITDP Brasil.
IMG 1466
Corredor segregado do Transcarioca
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Os
corredores do Via Livre (Leste-Oeste, ligando Camaragibe ao Centro do Recife, e
o Norte-Sul, entre Igarassu e a capital), além de estar ainda no início da
operação, têm grandes extensões de disputa entre BRTs, ônibus comuns e automóveis.
Situação potencializada pelo fato de que os corredores foram adaptações do que
já existia e, não, uma construção nova. Onde há mais de uma década já existia
segregação para os ônibus, ela permaneceu. Em trechos onde não havia
prioridade, a promessa do governo é promovê-la, ao menos parcialmente. Hoje, do
jeito que está, o Corredor Leste-Oeste possui 6,7 Km de tráfego misto dos 14,6
Km de extensão, e o Corredor Norte-Sul 5,7 Km dos 13 que estão em operação.
Na
Avenida Cruz Cabugá, por exemplo, chega a dar pena ver o BRT tendo que abrir
espaço para automóveis, mesmo na área das estações. A cena se repete na Avenida
Belmino Correia, em Camaragibe, na Avenida Benfica, na Madalena, ou com os
ônibus convencionais na Avenida Conde da Boa Vista. “Além de atrasar a viagem
em pelo menos 40 minutos, estressa a gente. Temos que ter uma atenção redobrada
para não danificar o veículo. É uma pena não termos a via segregada”, reclama
Eduardo Gomes, motorista da única linha em operação do Norte-Sul. A falta de
segregação provoca, inclusive, danos físicos. A Estação Tacaruna, na Cruz
Cabugá, teve o teto externo danificado por uma carreta que passou na área
apesar da altura superior à permitida – 3,9 metros.
BRT MS
As
descaracterizações dos BRTs foram discutidas e criticadas durante o Seminário
Nacional 2014 da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transporte de
Passageiros), realizado na semana passada em Brasília. “Vivemos uma época em
que os sistemas de BRT já evoluíram tanto que ganharam mais um R, de
confiabilidade (reliability, em inglês). O passageiro não espera apenas o
conforto do veículo e do embarque. Ele quer a confiabilidade do serviço e, no
tráfego misto, é impossível o BRT conseguir essa eficiência”, alerta o
diretor-presidente da Embarq Brasil e maior garoto-propaganda do BRT no País,
Luis Antônio Lindau.
 
GOVERNO
MINIMIZA IMPACTOS

O governo de Pernambuco minimiza o impacto da briga por espaço viário que o BRT
Via Livre está travando nas ruas. O presidente do Grande Recife Consórcio de
Transporte, Nelson Menezes, pondera que os trechos de tráfego misto são poucos
e que não havia como segregar os corredores nessa fase de implantação. Segundo
ele, com as obras em execução, o impacto sobre os automóveis e os ônibus comuns
seria ainda maior.

“A sociedade e a imprensa já estão promovendo uma enorme grita na Avenida
Caxangá, onde o BRT trafega isolado, porque deixamos apenas duas faixas para o
tráfego do restante dos veículos. Imagine se fôssemos separar os corredores em
vias como a Avenida Cruz Cabugá? Por isso a operação começou sem o isolamento”,
argumentou o presidente do GRCT, ponderando que em dezembro os dois corredores
de BRT – Leste-Oeste e Norte-Sul – deverão ser totalmente concluídos.
teto
Teto externo da Estação Tacaruna do BRT Norte-Sul foi danificado por um caminhão que passou na área mesmo tendo altura acima da permitida
Segundo
Nelson Menezes, o tráfego misto tem impactado nos resultados do BRT, mas ainda
não é tão prejudicial porque o sistema está em implantação. Mesmo assim, a
redução de velocidade é fato: o Corredor Norte-Sul deveria ter velocidade
operacional de 24 km/h e está em 16 km/h, enquanto o Leste-Oeste foi projetado
para desenvolver, no mínimo, 22 km/h e está em 18 km/h, graças à faixa
exclusiva da Avenida Caxangá.

BRT Move
BRT MOVE, de BH, possui tem corredor segregado e apenas 1,8 Km de via mista

Mas,
mesmo em dezembro, prazo final prometido pelo Estado, serão vários os trechos
em que os BRTs continuarão trafegando misturados a ônibus e/ou carros. Corredor
Norte-Sul: Complexo de Salgadinho, Rua da Aurora, Ponte Princesa Isabel, Praça
da República. Corredor Leste-Oeste: Avenida Belmino Correia, Rua Benfica,
Derby, Avenidas Conde da Boa Vista e Guararapes.


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