Siderúrgica vai usar sucata de ônibus e de carro-forte na produção do aço

Acordo inédito firmado pela multinacional ArcelorMittal prevê compra do material para alimentar fornos e para reaproveitamento de peças. Iniciativa fortalece mercado de usados
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Por Estado de MInas – Felipe Quintella
Imagem Divulgação

A siderúrgica ArcelorMittal anunciou acordo para a compra de sucata de veículos com a empresa paulista JR Diesel. Pela primeira vez o grupo compra aço reciclado originado do desmonte de veículos em larga escala. A parceria inicial envolve a compra de material reciclado de 57 ônibus de concessionárias de transporte urbano de São Paulo. O processamento dos veículos renderá 1,1 mil toneladas de sucata de aço, que será usada nos fornos elétricos da ArcelorMittal. Enquanto isso, as peças reaproveitáveis serão vendidas pela JR Diesel no mercado formal de peças usadas.

Agora, a siderúrgica tem a perspectiva de implementar um programa mais extenso de reciclagem. Como os veículos que têm mais de 10 anos de fabricação são proibidos de circular na cidade de São Paulo, mais 2,5 mil ônibus poderão ser fornecidos para desmonte. Além disso, a siderúrgica está negociando com uma empresa de carros-fortes, que ofereceria inicialmente cerca de 100 veículos. Os carros terão que ser destruídos, já que, por lei, não podem ser vendidos.

Segundo Bernardo Rosenthal, gerente-geral de Estratégia e Inteligência de Mercado de Metálicos da ArcelorMittal, a empresa tem que compensar a baixa oferta de sucata com outros materiais, como o ferro-gusa, matéria-prima da produção de aço. “Daí a importância dessa parceria, que visa garantir oferta regular de sucata, com escala e preços competitivos”, afirma.

De acordo com a nota divulgada pela ArcelorMittal, a parceria traz muitas vantagens. “O aço é infinitamente reciclável e a sucata é essencial para o funcionamento dos fornos elétricos da empresa”, afirma o comunicado.

Rosenthal acredita que o acordo pode abrir o mercado de reciclagem de veículos no Brasil. Ele cita um estudo do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) que contabiliza 4 milhões de veículos apreendidos nos pátios do Departamento de Trânsito em todo o país.

Na avaliação do executivo, o mercado brasileiro ainda está muito atrasado em relação ao internacional nesse setor. Segundo Rosenhtal, enquanto no Japão e nos Estados Unidos, 80% dos veículos são reciclados, no Brasil esse índice é de apenas 1,5%.

O próximo passo da siderúrgica na implementação de seu programa seria fechar parcerias com o poder público. “Porque não pensar no governo?”, questiona o gerente de Estratégia da ArcelorMittal. Ele destaca que somente em Minas Gerais, há 225 mil veículos parados nos pátios. Uma parceria público-privada, de acordo com Rosenthal, traria avanços para a saúde pública e o meio ambiente, ao impedir que as carcaças acumulem água parada e poluam o solo. Por outro lado, reduziria os custos públicos, além de combater o mercado de venda ilegal de autopeças, diminuindo o número de roubos.

Negócio promissor  

Desde 2018, o governo de Minas realizou dois leilões de veículos, ambos vencidos pela ArcelorMittal. Em 22 de março último, 294 veículos foram leiloados em Araxá, no Alto Paranaíba. Outras 963 unidades,que estavam no pátio do Detran/MG no Bairro Gameleira, na Zona Oeste de Belo Horizonte, foram arrematados pela companhia em 8 de fevereiro de 2018.

Arthur Rufino, principal executivo da JR Diesel, afirma que os dois lados da parceria sairão ganhando. “A ideia é transformar radicalmente o mercado de desmonte de veículos, venda de peças e produção de sucatas, respeitando o que hoje prevê a legislação”, afirmou. Rufino explica que a empresa nunca havia conseguido usar mais de um quarto de sua capacidade produtiva. Agora, o acordo com a siderúrgica pode resultar em ampliação da força produtiva.

Rufino diz que antes da parceria com a siderúrgica, não valia a pena comprar frotas de veículos repetidos. “A gente acabava prejudicando o nosso fluxo de caixa, trazendo peças que acumulariam em estoque”, explica. Com a entrada da ArcelorMittal no negócio, passou a fazer sentido comprar frotas de ônibus, por exemplo. Dessa forma, eles poderão revender outros materiais que não são aproveitados pela siderurgia, como o vidro.