A vida não era mole há onze anos

A vida de um usuário do transporte público nunca é mole. Nem hoje, nem em 2011.
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Em dezembro de 2010, foi realizada a entrega de vários ônibus zero quilômetro da São Jorge, Mandacaruense, Transnacional, Marcos da Silva… Das duas primeiras empresas, toda a frota apresentada naquela entrega foi alocada na linha 1001-Bairro das Indústrias/Via Shopping, que mal sabia eu que seis meses depois teria que precisar delas para ir até a faculdade IESP – hoje Uniesp Centro Universitário – na Estrada de Cabedelo, onde cursei Publicidade e Propaganda e desde 2013 sou formado nessa carreira.

Vamos começar pelo fato de como já não seria fácil? Eu resido no bairro do Rangel desde que nasci. E para ir até a faculdade acima mencionada às seis horas da manhã para chegar de sete e meia no mínimo (a aula começava à essa hora), teria que pegar qualquer ônibus que fosse de três dígitos (radial pura), circular para a Epitácio. As que existiam são gambiarras e são essas gambiarras que prejudicavam a integração que eu pretendia fazer. E não serviam porque pelas regras circular com circular não integra. Naquela época a Integração Temporal já funcionava e eu tinha que pegar o ônibus em menos de meia hora se eu quisesse chegar. E se o sistema efetivamente funcionasse.

Eu teria que descer na Vasco da Gama, em Jaguaribe, certo? Errado! Eu tentei isso no primeiro dia, mas aqueles ônibus cheirando a novo carregavam alunos das escolas do Centro até a escada. Os ônibus passavam direto porque não poderiam mais pegar ninguém. Tentei na parada do Lyceu, onde praticamente todo mundo desembarcaria, mas fracassou de novo. As vezes ou eu perdia uma passagem para ir até a parada das Lourdinas, na Epitácio, ou ia para o Terminal do Varadouro driblar o tempo e conseguir chegar antes disso na parada pretendida. Adrenalina pura de quase três anos e meio, quando troquei para a linha 604 – caminhar um pouco não poderia fazer tão mal do que descer na frente usando uma linha onde eu tinha que fazer todas as manobras possíveis e imagináveis para fazer render uma passagem.

Do outro lado, não tinha passarela – só passou a ter tempos depois. Eu não queria arriscar a vida para atravessar a rua e daí pegava o primeiro que aparecesse mesmo que viesse de Cabedelo. O negócio era chegar na Lagoa e esperar qualquer linha que tivesse três dígitos. E assim foi de 2010 até 2013, quando me formei e saí dessa rotina, da qual a minha única saudade era da faculdade – dos dema.

E a foto deste post de um carro da São Jorge naquela linha 1001? É de onze anos atrás. E o veículo vinha atrás do Mandacaruense onde eu estava a caminho da faculdade. Isso era frequente na época.

O tempo passou, algumas coisas mudaram – hoje a linha do Renascer é municipal – mas toda essa aventura me fez repensar muitas coisas sobre como a estrutura do sistema é péssima e como essas gambiarras prejudicavam a dinâmica dos meus trajetos. O que me faz falar com propriedade que a vida já não era fácil há onze anos.

E com ônibus cheirando a novos. Incluindo aqueles Volkswagen cuja cobertura deles praticamente inaugurou este site – e no primeiro dia deles, perdi um por atraso do próprio e letreiro desligado não informando que o carro era da linha. Não poderia ser a coisa mais fantástica do mundo se eu continuasse a enfrentar as mesmas aventuras todos os dias para chegar aonde eu queria chegar.

josi 507

Esta foi mais uma coluna do Josivandro Avelar. E aí, vamos conversar mais sobre como os problemas do nosso transporte vão além do veículo ônibus e o que isso tem a ver com a dinâmica da cidade onde você mora? Tô aqui no Ônibus & Transporte falando sobre isso, mas falo sobre outros assuntos no Blog Josivandro Avelar e no podcast Luneta Sonora. Você também pode me seguir no Instagram.


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