De acordo com a publicação “Pessoas com deficiência e as desigualdades sociais no Brasil”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no ano passado, a Paraíba tem 10,7% da população com dois anos ou mais de idade com alguma deficiência. E é, justamente, para esta parcela da população que as empresas de transporte de passageiros voltam agora sua atenção para reforçar nos motoristas a importância de ter empatia com esse público. O programa de treinamento ‘Condutores de Acessibilidade” começou nesta terça-feira (03) e vai contemplar todos os operadores que atuam nas linhas metropolitanas da Grande João Pessoa, nas cidades de Bayeux, Cabedelo, Santa Rita e nas linhas urbanas da capital. A abertura da capacitação aconteceu na garagem da Unitrans com a presença de representantes do DER, FUNAD, do Gabinete da deputada Cida Ramos, Sintur, Ministério Público e Casa de Apoio Helena Holanda.
A Diretora Administrativa da Unitrans, Lorena Dantas, fez a abertura do momento, reiterando a importância do trabalho dos operadores que trabalham com um público plural e que precisam ter um olhar ainda mais atento às necessidades especiais dos passageiros com deficiência. “Precisamos ter esse olhar de empatia e acolhimento entendendo que esse público requer de nós um cuidado e atenção especial. Por vezes, a gente sai de casa num dia não muito legal, mas, é preciso entender que quem lida com um público tão heterogêneo como o nosso precisa ter o dom de saber tratar e respeitar as pessoas do jeito que elas merecem e como todos gostariam de ser tratados”, disse Lorena.
O Promotor de Justiça, Gualberto Bezerra, presente ao evento enfatizou a necessidade do olhar para o outro e reiterou que isso é uma prática de interação social fundamental. “Precisamos olhar nos olhos do outro e enxergar seus desejos, traduzindo nessa interação o que a gente sente. E a gente deve sentir que o ser humano é único, mas que todos somos diferentes e, portanto, temos necessidades distintas. Empatia é ter o reconhecimento de igualdade no outro. Ter sabedoria em respeitar o próximo. Todos somos importantes. E, neste contexto, esse olhar das empresas de transporte com as pessoas com deficiência é bastante elogiável e necessário”, disse o representante do Ministério Público.
O Assessor Jurídico do Grupo A. Cândido, Marcos Neto, lembrou que ao longo dos anos as empresas de transporte acompanharam a evolução do serviço propondo melhorias que impactassem diretamente no público do segmento e que esse olhar empático com as pessoas deficientes sempre ocupou lugar de destaque neste processo. “Essa necessidade de se colocar no lugar do outro a gente sempre teve. E entender as necessidades especiais de nossos clientes mostra o quanto o olhar das empresas foi ampliado e também a nossa capacidade de empatia social que, no caso do Grupo A. Cândido, sempre teve a concepção de transportar com qualidade pessoas para seus mais variados destinos, nas suas mais diversas necessidades, da melh0or forma possível”, disse o advogado.
A Psicóloga do Sintur, Herla Albuquerque, falou em seguida abordando a questão do atendimento e empatia com os passageiros deficientes. “Às vezes, a gente não sabe lidar com as pessoas deficientes e, neste contexto, precisamos falar de empatia e isso se traduz em ações do tipo, não faça aos outro o que não gostaria de fizessem com você, aja naturalmente, olhem para o outro sem julgamentos, tratem com humanidade e sempre perguntem se o passageiro precisa de ajuda”, destacou ela. O Diretor Institucional do Sintur/JP, Isaac Moreira, lembrou que o treinamento de hoje faz parte do cronograma de capacitação dos operadores. “Não estamos aqui com essa ação por causa da obrigatoriedade da Lei, mas, para reforçar a necessidade do respeito e empatia com esse público especial”, destacou Isaac, lembrando que toda a frota urbana da capital já é adaptada e equipada para o bom atendimento às pessoas com deficiência e que o treinamento dos operadores reforça o respeito das empresas com esse público específico.
A Presidente da Casa de Apoio Helena Holanda, Helena Holanda, também falou da importância deste acolhimento no sistema de transporte. “A inclusão é uma ação cotidiana e eu digo que as empresas têm esse olhar. Nós entendemos a posição do motorista, que não é uma profissão fácil, mas, se não é feliz no seu trabalho pede demissão porque não custa nada parar mais próximo de uma pessoa cega para facilitar seu embarque, esperar um tempo maior para a subida ou descida de um deficiente físico do ônibus e não é nada demais perguntar se a pessoa precisa de ajuda e se dispor a ajudar”, disse Helena.
A Gestora da Empregabilidade da FUNAD, Mércia Morais, falou que essa ação das empresas é muito importante para a sociedade. “É preciso entender que é imprescindível respeitar os deficientes porque isso tem a ver com a dignidade da pessoa, com o direito dela ir e vir em segurança e treinar o material humano é fundamental, pois quem conduz o ônibus é o motorista e é preciso que esse respeito com a pessoa com deficiência seja sempre lembrando e priorizado”, afirmou Mércia.
Após as falas, foi realizada uma dinâmica onde os motoristas se colocaram no lugar de passageiros com deficiência motora e visual. O Motorista Aryon da Silva Alves, da Transnacional, vivenciou a experiência de entrar e sair do ônibus usando a plataforma elevatória como se fosse um cadeirante. “Confesso que não foi fácil. Experimentar essa dificuldade de entrar no ônibus numa cadeira de rodas, me fez ter outro olhar pelos cadeirantes e pessoas que usam muletas, por exemplo, porque a agilidade e velocidade deles não é a mesma, daí a importância da empatia”, disse ele. A mesma experiência foi vivenciada por outros operadores com vendas nos olhos. João Silva, motorista da PB Rio, usou uma venda para entrar e sair do ônibus. “É um a situação que a gente tem que vivenciar para se colocar no lugar do outro e, a partir daí, ver que as pessoas cegas precisam de um cuidado especial, tanto quanto os cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção, não necessariamente deficientes, podendo ser idosos ou grávidas”, disse ele.
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