Um estudo recente divulgado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) evidencia o impacto alarmante dos incêndios criminosos em ônibus no Brasil. De acordo com a edição bimestral de julho e agosto de 2024, desde 1987, mais de 4.881 ônibus foram destruídos em todo o país, gerando um efeito devastador para o sistema de transporte público, a economia e a população.
Em 2024, o cenário não mostra sinais de melhoria. Apenas nos dois primeiros meses do segundo semestre, foram 52 ônibus incendiados, elevando a média para um coletivo destruído a cada quatro dias. Essa destruição sistemática afeta não só a mobilidade dos cidadãos, mas também a saúde financeira das empresas e a qualidade de vida de quem depende desse serviço essencial.
Prejuízos financeiros e sociais com os ônibus incendiados
O impacto financeiro é colossal. Estima-se que R$ 568.720,98 seja o custo médio de reposição de um ônibus tipo Padron. Levando em consideração os incêndios ocorridos entre 1987 e 2024, o valor total gasto para substituir esses veículos chegaria a um impressionante R$ 268 milhões, verba que poderia ter sido usada para adquirir 268 novos ônibus ou, de maneira ainda mais estratégica, construir 2.276 quilômetros de corredores de BRT.
Além dos custos diretos com a substituição dos veículos, o estudo detalha também o impacto nas horas de trabalho perdidas pelos passageiros afetados, totalizando um prejuízo significativo à produtividade. A estimativa é de que R$ 1,4 bilhão tenha sido perdido em horas de trabalho não realizadas entre os passageiros que ficaram sem transporte nos dias dos ataques.
Outro dado preocupante é o número de passageiros não transportados. Apenas em 2024, mais de 91,2 milhões de passageiros foram impactados pelas interrupções no serviço devido aos incêndios, afetando diretamente o fluxo de pessoas que utilizam o transporte público como meio principal de deslocamento para o trabalho e outros compromissos diários.
Crescimento alarmante dos ataques
O crescimento dos ataques criminosos ao transporte público preocupa. Segundo a NTU, somente entre 2004 e 2024, foram registrados 2.858 incêndios em ônibus em várias regiões do país, com destaque para as capitais. Esses números alarmantes impactam diretamente a oferta de transporte em áreas de maior vulnerabilidade social, onde os cidadãos dependem mais fortemente dos serviços públicos de ônibus.
Cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife são as mais afetadas, com uma incidência crescente de ataques ligados à violência urbana e ao crime organizado. As regiões periféricas dessas metrópoles têm sido os principais alvos de tais ações, prejudicando diretamente as comunidades de baixa renda, que já enfrentam dificuldades no acesso a serviços essenciais.
Investimentos comprometidos
De acordo com o estudo, o valor total que seria necessário para cobrir os prejuízos acumulados ao longo das últimas décadas poderia ser direcionado para melhorar significativamente o transporte público no Brasil. Com o montante de mais de R$ 3 bilhões comprometidos até agora, seria possível investir na modernização da frota, na construção de novos corredores de BRT e na ampliação de serviços, impactando positivamente a mobilidade urbana no país.
A falta de seguro para cobrir os ônibus destruídos agrava ainda mais a situação, pois as empresas de transporte, já enfrentando margens de lucro apertadas, precisam absorver esses custos ou repassá-los ao usuário final, o que pode resultar em aumentos de tarifas e na queda da qualidade do serviço.
Desafios e soluções
Para mitigar os efeitos desses ataques, a NTU e outras entidades ligadas ao setor de transportes vêm colaborando com autoridades de segurança pública na implementação de medidas preventivas e de repressão a esses crimes. No entanto, é claro que mais esforços são necessários para garantir a segurança dos passageiros e a continuidade do transporte público, especialmente nas áreas mais vulneráveis.
A implementação de políticas públicas que promovam a segurança no transporte público e a proteção dos veículos é urgente. Isso inclui o uso de tecnologia de monitoramento em tempo real, maior presença de policiamento nas áreas de maior risco e campanhas de conscientização para a população.
O impacto dos ônibus incendiados no Brasil vai muito além dos veículos destruídos. É uma crise que afeta a economia, a produtividade e, acima de tudo, a vida dos cidadãos que dependem do transporte público para suas necessidades diárias. Uma solução robusta e coordenada é necessária para combater esse problema crescente e garantir um transporte público seguro e acessível para todos.
Confira o quadro com os números da NTU aqui.
Imagem: Internet
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