A tradicional empresa de ônibus Expresso São Pedro, com sede em Santa Maria e 78 anos de história, entrou com um pedido de falência na Justiça no dia 18 de novembro. A informação foi divulgada pelo jornalista Deni Zolin, do Diário de Santa Maria.
A decisão veio após diversas tentativas de renegociar prazos para pagamento de dívidas e equilibrar as finanças, mas essas medidas não foram suficientes para conter a crise que se agravou nos últimos anos. A advogada Luiza Negrini Mallmann, representante da Expresso São Pedro, informou que a empresa continuará operando normalmente até que a Justiça emita uma sentença definitiva. Caso o pedido de falência seja aceito, um período de transição pode ser negociado para garantir a continuidade das operações.
A Expresso São Pedro desempenha um papel fundamental no transporte coletivo da região central do Rio Grande do Sul. Suas linhas conectam Santa Maria a cidades como São Pedro do Sul, São Vicente do Sul, Jaguari, Santiago, São Borja e São Luiz Gonzaga, sendo essenciais para a mobilidade da população local.
Por se tratar de um serviço de utilidade pública, a Justiça poderá consultar o Daer (Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem) e o governo estadual antes de tomar uma decisão. Especialistas apontam que, em situações semelhantes, é comum uma transição planejada, permitindo que outra empresa assuma as linhas e evitando a interrupção do transporte.
Cenário de crise no transporte coletivo
A situação da Expresso São Pedro é reflexo de uma crise generalizada no setor de transporte coletivo em todo o Brasil. Empresas de ônibus intermunicipais e interestaduais enfrentam desafios como redução na demanda, concorrência com aplicativos de carona, custos operacionais elevados e falta de incentivos governamentais.
Entre 2013 e 2023, a venda de passagens intermunicipais no Rio Grande do Sul caiu impressionantes 66%, passando de 32,2 milhões para 10,9 milhões, segundo dados do portal GZH. No mesmo período, o número de rodoviárias no estado caiu de 326 para 184.
No transporte interestadual, a participação dos ônibus no mercado diminuiu de 41,4% em 2013 para 24,4% em 2023, enquanto o transporte aéreo, com tarifas competitivas e maior rapidez, alcançou 75,6% do mercado, segundo a Confederação Nacional do Transporte (CNT).
O futuro incerto do setor
O caso da Expresso São Pedro levanta preocupações sobre o futuro do transporte coletivo, especialmente em áreas onde é a única alternativa viável para muitas pessoas. Apesar de subsídios começarem a ser oferecidos no transporte urbano em algumas cidades, o setor intermunicipal e interestadual continua sem incentivos significativos.
Empresas históricas, como a Expresso São Pedro e a Pluma, que decretou falência em 2023, estão sucumbindo. Sem políticas públicas voltadas para o setor, o direito à mobilidade de milhares de brasileiros está ameaçado, particularmente em regiões onde o transporte coletivo é essencial para acesso ao trabalho, à educação e a serviços de saúde.
O pedido de falência da Expresso São Pedro é mais um sinal de alerta para a necessidade de ações urgentes que revitalizem o transporte coletivo no Brasil, garantindo sua viabilidade e preservando o direito à mobilidade para as populações mais vulneráveis.
Imagem: Jardel Moraes
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