Resistência de alternativos trava melhorias no transporte da Grande Natal

Pressão de permissionários do sistema complementar da Grande Natal dificulta avanços no transporte intermunicipal; linha de Extremoz é rara exceção.
Natal

Os esforços do Governo do Rio Grande do Norte e dos prefeitos da Região Metropolitana de Natal para melhorar o transporte intermunicipal esbarram em um problema silencioso, porém decisivo: a resistência dos permissionários do sistema de transporte alternativo.

Embora a reunião do dia 12 de maio, divulgada pelo Governo do Estado, tenha sido anunciada como um passo importante para a ampliação de linhas e melhoria da frequência de ônibus entre os municípios, os avanços até agora foram quase nulos. A única ação concreta foi a criação da nova linha 161, que liga Extremoz ao bairro de Petrópolis, em Natal — e isso só foi possível porque a operação passou a utilizar a bilhetagem municipal de Extremoz, fugindo da gestão direta do Departamento de Estradas de Rodagem (DER/RN).

De acordo com apuração do PORTAL UNIBUS, os permissionários do transporte complementar têm feito forte pressão para impedir que as propostas dos prefeitos saiam do papel. Eles temem que o crescimento do sistema regular comprometa a operação dos alternativos, que historicamente ocupam espaços deixados por falhas na cobertura do transporte tradicional.

Essa pressão tem surtido efeito. Técnicos do DER relatam dificuldades em avançar na análise de novas propostas, justamente por conta da atuação dos representantes dos alternativos. Sempre que um projeto é apresentado, surgem obstáculos internos e externos, com o argumento de que as mudanças podem inviabilizar o sistema complementar.

Enquanto isso, moradores de cidades como Macaíba, São Gonçalo do Amarante e Ceará-Mirim continuam enfrentando os mesmos problemas: escassez de horários, longas esperas e falta de integração com o sistema de Natal.

A exceção é Extremoz. A prefeita Jussara Sales conseguiu driblar os entraves e viabilizou a nova linha 161, que passou a operar no início de junho com tarifa acessível e integração ao sistema natalense. A linha tem sido bem recebida pela população e é vista como um exemplo de solução viável — embora represente, para os permissionários do sistema alternativo, uma ameaça ao modelo atual.

O Governo do Estado afirma que o diálogo com os municípios continua e que as propostas seguem em análise. Mas a realidade mostra que sem enfrentamento direto à pressão corporativa, será difícil avançar. A isenção do ICMS sobre o diesel, que vem sendo usada como estímulo à modernização do transporte, não tem sido suficiente para destravar o sistema.

A mobilidade urbana na Região Metropolitana de Natal precisa urgentemente sair do papel. E para isso, será necessário colocar o interesse público acima dos privilégios estabelecidos. Caso contrário, o transporte continuará refém de um modelo que resiste a qualquer mudança.

Imagem: Divulgação

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