A assinatura de carta de intenções para incorporação da L&M, controladora direta da San Marino Ônibus (Neobus), de Caxias do Sul, pela Marcopolo pautou questionamentos em teleconferência realizada pela empresa, na manhã de ontem, para apresentação do desempenho econômico-financeiro do terceiro trimestre. José Antônio Valiatti, CFO e diretor de relações com investidores, destacou que as tratativas foram iniciadas há seis meses já dentro da visão da Marcopolo de melhorar seu desempenho no mercado externo e reforçar a atuação interna. A Neobus tem participação próxima a 10% das vendas domésticas. “Mesmo neste momento de dificuldades, em que há ociosidade nas plantas das duas marcas, visualizamos oportunidades para otimizar as operações. Além disso, não era uma operação estranha, pois a Marcopolo já tinha participação de 45%”, argumentou.
De acordo com Valiatti, a dívida da Neobus que será assumida pela Marcopolo gira em torno de R$ 200 milhões, mas destacou que a maior parte deve-se ao investimento feito na planta de Três Rios (RJ). Também disse que o custo da dívida é baixo. Comentou que, neste ano, o Ebitda apurado até o momento na Neobus é de 5%, mas ressaltou que já foi de dois dígitos em anos anteriores. “Este é um ano fora da curva”, assinalou.
Na terça-feira, a Marcopolo anunciou a alienação de 100% dos ativos da Neobus (mais 55%), em troca de 27.710.582 ações preferenciais de sua emissão, mais a assunção da dívida de cerca R$ 200 milhões. O negócio repercutiu positivamente no mercado acionário. Ontem, os papéis PN N2 da Marcopolo fecharam em alta de 8,12%, a R$ 2,13. O CEO Francisco Gomes Neto reforçou que as duas marcas terão atuação independente. Observou que a incorporação da Neobus auxiliará na consolidação do projeto de ampliar as exportações, principalmente no Oriente Médio.
Para a Marcopolo, o último trimestre do ano tem apresentado comportamento distinto ao que fora registrado até setembro. Os níveis de produção na unidade de Ana Rech, em Caxias do Sul, onde se concentram os modelos rodoviários, aumentaram a um patamar de 70% de ocupação da capacidade instalada, algo até então não registrado no ano. O desempenho positivo decorre, em especial, de encomendas para exportações e de empresas recentemente habilitadas para explorar o transporte urbano de Porto Alegre.
Em razão do quadro, os trabalhadores desta unidade estão fora do regime de flexibilização de jornada, adotada por seis meses durante o ano, que determinava a suspensão de até seis dias por mês das atividades produtivas. Também deverão trabalhar três sábados até o fim do ano, compensando parte das horas de folga, e a empresa ainda avalia a possibilidade de adiar o início das férias coletivas. A estimativa é que a produção diária de novembro e dezembro seja até 20% superior àquela que vinha sendo feita.
Este comportamento não se estende à unidade Planalto, em Caxias do Sul, focada na produção dos veículos Volare, onde se mantém a flexibilização de jornada, e de Duque de Caxias (RJ), que concentra a linha de modelos urbanos. Em razão das eleições municipais de 2016 e dos Jogos Olímpicos, a diretoria projeta leve recuperação nestas unidades. Para amenizar a queda de 52% nas vendas do Volare, para pouco mais de 1,6 mil unidades, no acumulado até setembro, a empresa se habilitou, através de pregão eletrônico, a produzir e fornecer até 500 ônibus escolares com acessibilidade ao programa Caminho da Escola. As entregas deverão ter início em 2016 e se estender ao longo do ano.
O quadro atual, no entanto, não representa recuperação consistente. Na avaliação de Francisco Gomes Neto, CEO da companhia, o próximo ano, especialmente no primeiro trimestre, deve ser muito parecido com 2015. “Está muito difícil fazer um planejamento de longo prazo”, destacou. De acordo com o CEO, a Marcopolo aportará recursos para aumentar as vendas externas. A meta para o próximo ano é elevar em 30% as vendas em dólar, algo como US$ 50 milhões adicionais ao projetado para 2015.