Passageiros deixam aviões e voltam aos ônibus

Fonte: Veja Fotos: Lucas Lima A enfermeira aposentada Adir Maria Ferronato planeja montar uma casa de repouso no município goiano de São João da Aliança, localizado na Chapada dos Veadeiros, a 150 ...

Fonte: Veja
Fotos: Lucas Lima

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A
enfermeira aposentada Adir Maria Ferronato planeja montar uma casa de repouso
no município goiano de São João da Aliança, localizado na Chapada dos
Veadeiros, a 150 quilômetros de Brasília. Das últimas vezes que deixou
Porto Alegre (RS) para ir à capital do país, Adir teve de enfrentar um dia e
meio de viagem de ônibus. Quando encontrava passagens de avião a um preço
“mais acessível”, ela fazia o percurso em pouco mais de duas horas. Neste
ano, porém, a enfermeira passou muito mais vezes pelo terminal rodoviário de
Brasília do que pelo aeroporto internacional Juscelino Kubitschek (JK). Na
volta para a capital gaúcha, conseguiu economizar 1.125 reais. “Não
vou jogar meu dinheiro suado ao vento”, explica. 

Adir
não é a única que teve de voltar a viajar de ônibus mesmo achando “uma
maravilha” a economia de tempo que os aviões proporcionam. Pela primeira
vez em dez anos do governo PT, o movimento de embarques e desembarques em voos
domésticos caiu no primeiro semestre na comparação com o mesmo período do ano
anterior.
De
2003 a 2012, o número de passageiros de voos domésticos cresceu
consecutivamente, saltando de 29,363 milhões de pessoas para 84,231 milhões.
Neste ano, ocorreu a primeira freada, com esse número baixando para 84,126
milhões de passageiros.

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Os
dados são da Infraero – responsável pela administração de 63 aeroportos – e das
administradoras dos terminais privatizados (Brasília, Guarulhos e Viracopos). O
critério utilizado soma embarques e desembarques e não faz diferenciação por
CPF, o que impede dizer que cada passageiro é uma pessoa única.
Volta
ao ônibus –
 Paralelamente aos dados da Infraero,
números da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) mostram que o
fluxo de viajantes rodoviários aumentou no primeiro trimestre do ano em relação
a igual período de 2012, suspendendo uma tendência de queda de sete anos.
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Na
comparação dos três primeiros meses deste ano com o mesmo período do ano
passado, o número de pessoas que viajaram entre os Estados de ônibus de longa
distância, aqueles que não possuem catraca e não deixam viajar em pé, aumentou
2,58%, de 15,257 milhões para 15,652 milhões. Ao mesmo tempo, caiu 0,20% o
número de passageiros de voos domésticos, de 41,983 milhões para 41,9 milhões.
Também foi o primeiro recuo desde 2003.

A
ANTT ainda não consolidou os dados do primeiro semestre. Paulo Porto, presidente
da Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros
(Abrati) – cujas associadas representam 85% da receita do setor -, diz que a
projeção é de expansão ainda maior no segundo trimestre.
Classe
média –
 Os números indicam que houve, no
mínimo, suspensão na migração dos passageiros que deixaram de viajar de ônibus
para ir de avião. Nos últimos anos, a melhora do poder aquisitivo proporcionou
à classe média brasileira acesso a produtos e serviços que antes não faziam
parte de seus planos, como viajar de avião.

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As
companhias aéreas se enfrentaram para atrair esse cliente novo, usando como
principal arma o preço dos bilhetes. A redução das passagens conseguiu fisgar a
classe média emergente e atingiu consideravelmente o setor rodoviário, pois a
concorrência é de mais de 60% nos roteiros interestaduais.
O
cenário atual é bastante distinto. As empresas agora procuram melhorar a
eficiência para diminuir custos, que subiram às alturas com a valorização de
10% da moeda americana no primeiro semestre.
Segundo
Adalberto Febeliano, da Associação Brasileira das Empresas Aéreas, que
representa quase a totalidade do setor, 70% dos custos das companhias são
atrelados ao dólar, incluindo os combustíveis. A leitura do consultor técnico
da associação é que houve uma “estabilidade” no movimento de
passageiros. “Nada cresce para sempre o tempo todo”, afirma.

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Ele
diz que o “segredo” do sucesso das empresas era diminuir a oferta de
assentos sem diminuir a demanda, mas claro que houve impacto desse processo no
número de viajantes.
As
companhias aéreas diminuíram os voos para aumentar a ocupação. Com menos
frequência, os aviões passaram a decolar mais cheios.
Os
dados da Infraero e das administradoras dos aeroportos privatizados também
captaram esse movimento. No primeiro semestre, houve queda de 5,35% no número
de pousos e decolagens de aeronaves, na contramão da expansão média de mais de
6% apurada de 2003 a 2012.