A verdadeira história entre a Caio e a Marcopolo

Fonte: Mobilidade em Foco Matéria / Texto: Carlos Alberto Ribeiro  Fotos: JC Barboza Parte 1: A crise econômica da Caio nos anos 90 O ano era 1998, ano de eleição presidencial e o atual ...
Fonte:
Mobilidade em Foco
Matéria / Texto: Carlos Alberto Ribeiro
 
Fotos: JC Barboza
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Parte
1: A crise econômica da Caio nos anos 90

O ano era 1998, ano de eleição presidencial e o atual presidente, Fernando
Henrique Cardoso, buscava a reeleição. O cenário era de incertezas e haviauma
crise econômica a ser vencida, fruto do desaquecimento do mercado interno,
queda das exportações, inflação alta e a quebra econômica de vários países
mundo afora, entre eles, a Rússia, México e os Tigres Asiáticos. Foram 11 os
países que enfrentaram enormes dificuldades econômicas na segunda metade dos
anos 90. E isso repercutiu na economia brasileira. Mas muito diferente do que
ocorre agora, quando inúmeros países vivem bom momento em suas economias e o
Brasil patina e afunda em todos os indicadores socioeconômicos, fruto da
incapacidade do governo do PT, da corrupção, do aparelhamento da máquina
pública, enfim, da roubalheira.

Em 1998 a Caio, renomada fabricante de carrocerias pra ônibus, também
enfrentava dificuldades, que já vinha da primeira metade dos anos 80. Na
tentativa de recuperar o valor dos ativos da empresa e a plena atividade fabril
seus controladores passaram o controle, a direção da fábrica para a gestão
conjunta do Banco Bozzano, Simonsen e para a Applied, consultoria especializada
na recuperação de empresas. Parece que pouco adiantou, pois poucos meses
depois, já em 1999, a família Massa, acionista majoritária, retoma o controle
da Caio. Motivo: insatisfação com a nova direção. O fruto dos seguidos
contratempos que foram minando a saúde contábil da fabricante veio logo a
seguir, em 2000. Com um passivo acumulado de R$ 170 milhões, a direção da
companhia optou pela falência.


Em fevereiro de 2001, ficou bem claro em uma reportagem da revista Isto É
Dinheiro, os motivos do fim da Caio. Neste caso, segundo a reportagem, a profissionalização
da gestão da empresa, até então de controle familiar, não representou um
passaporte para o sucesso ou a continuidade do negócio, de forma rentável. Seus
problemas, que já não eram poucos, se agravaram quando o banco Bozzano,
Simonsen e a Applied assumiram a gestão em 1998. O passivo de enorme valor não
permitiu a vida fabril e o resultado foi a autofalência.

A Applied rebateu a reportagem da Isto É Dinheiro. Em matéria na edição
seguinte a empresa de gestão de massa falida disse que foi ela quem denunciou o
contrato celebrado com os acionistas da Caio. E o motivo teria sido o não
atendimento do principal requisito do contrato celebrado, que era a
capitalização de R$ 30 milhões por parte dos acionistas. Tal fator contribuiu
para que a Caio passasse do ponto de retorno. Este ponto é identificado pela
falência total dos sinais vitais operacionais, econômicos, financeiros e,
principalmente, da perda de credibilidade com funcionários, comunidade
financeira, fornecedores, clientes, etc.

O fim da Caio teria sido praticamente definitivo, assim como o da Busscar
agora. A sorte foi que o Grupo Ruas, conglomerado que reúne 19 empresas do
segmento de transporte de passageiros na Grande São Paulo, com faturamento de
R$ 1 bilhão/ano, arrendou a marca e o parque industrial situado em Botucatu,
São Paulo. O investimento era estratégico, pois a Holding Ruas tinha 4,2 mil
ônibus em sua frota, 95% deles da Caio. Com o fim da fabricante, a frota de
ônibus das empresas do grupo perderiam enorme valor de mercado, se
desvalorizariam muito na hora da revenda. Contabilmente um desastre no valor
dos ativos. O arrendamento exigiu o aporte imediato de R$ 10 milhões para
reativar a Caio e recompor o capital de giro.

Entre os vários ônus assumidos, um deles foi o de contingenciar R$ 3 milhões da
rubrica de 10 para bancar a fabricação e entrega de 70 carrocerias de ônibus,
já pagos, mas não entregues pelos antigos donos aos seus clientes. Outra
solução, dessa vez de cunho jurídico, teve de ser tomada. Rebatizar a empresa de
Caio para Caio Induscar Indústria e Comércio de Carrocerias. A manobra foi
negociada com o síndico da massa falida e o juiz que analisou o processo da
falência. Isso evitou que o Grupo Ruas fosse considerado sucessor dos imensos
débitos da Caio. Na oportunidade a família Ruas prometeu aos gestores da massa
falida e ao juiz que tinham recursos suficientes para capitalizar a empresa,
tirar a mesma do ostracismo e gerar empregos diretos e indiretos, renda,
impostos e tributos.


Parte 2: Caio Induscar, 13 anos depois, a gigante da fabricação de ônibus
urbanos

O controle societário da Caio Induscar, hoje, do que apurei, está dividido
entre Marcelo Ruas, Mauricio Cunha e os Grupos APMR e VT Cunha. Ambos atuam
ativamente no mercado de transporte coletivo e possuem forte atuação no
comércio de automóveis e caminhões. Através de uma das suas controladas, a Caio
Induscar, lideram a produção de carrocerias de ônibus urbanos no Brasil, com
significativa folga sobre a segunda colocada, a Marcopolo. No transporte coletivo
urbano, em São Paulo, 55% da frota rodante pertence ao conglomerado de
empresas. Mas os negócios se estendem além, possuindo participação acionária em
bancos no exterior, em parceria com o Grupo Amorim.
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No tocante as empresas do grupo que operam o transporte de passageiros, a
relação é a seguinte: Viação Campo Belo, Viação Bola Branca, Viação Sul
Transportes, Vip Transportes Urbanos, Vip Viação Itam Paulista, Expandir
Empreendimentos Participações, Viação Himalaia. No ramo comercial de venda de
veículos automotores atua com as empresas Comercial Divena, Divena Automóveis,
Divena Litoral, Itatiaia Caminhões, Itatiaia Caminhões Mauá. No setor
industrial a holding participa com a Caio Induscar, Fiberbus e a Inbrasp.



Parte 3: Onde entra a Marcopolo

A Marcopolo não possui ações, não é acionista da Caio Induscar. Possui
unicamente uma “joint-venture” (parceria) com a Twice Investimentos e
Participações Ltda., formada pelos principais acionistas da Caio Induscar. O
acordo foi firmado no dia 8 de maio de 2012. A parceria formada teve como foco
fabricar peças, maximizando a produção de componentes para ônibus para as duas
empresas (Marcopolo e Caio Induscar), de forma a reduzir custos como a
aquisição de ‘commodities”. Entre as partes que celebraram o acordo, por parte
da Marcopolo, a empresa que aparece como acionista da Twice Investimentos e
Participações, é a Syncroparts Comércio e Distribuição de Peças (uma das
controladas do Grupo Marcopolo). Merece destaque ainda que a nova empresa
criada atua com completa independência das duas partes que são controladoras
delas. O acordo não interfere no design das carrocerias da Marcopolo e da Caio
Induscar, cujos departamentos não possuem acordos de cooperação.


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