101-Grotão: Um “santo” descoberto para cobrir uma Colina

Fonte: Portal Ônibus ParaibanosMatéria/Texto: Kristofer OliveiraFoto: Kristofer Oliveira Recentemente a linha 101 – Grotão mudou oficialmente o seu itinerário e consequentemente, o seu terminal, ...

Fonte: Portal Ônibus Paraibanos
Matéria/Texto: Kristofer Oliveira
Foto: Kristofer Oliveira

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Recentemente a linha 101 – Grotão mudou oficialmente o seu itinerário e consequentemente, o seu terminal, mudando para o Colinas do Sul, no terminal de integração do bairro, fazendo o mesmo trajeto realizado há anos no bacurau. Uma reivindicação que perdurava anos por parte dos populares do Colinas foi acatada pela Semob, ocasionando desconforto e transtorno para os usuários da linha no bairro do Grotão, Funcionários II, Ernany Sátiro e Costa e Silva. Para compreender melhor o impacto causado por essa mudança, apresentarei alguns dados e farei um retrocesso histórico.

A linha 101 nasceu na metade dos anos 80 para atender parte da expansão urbana da cidade que estava em curso na zona sul, entre os bairros Ernesto Geisel e Costa e Silva. O Ernany Sátiro e o Esplanada já eram atendidos pela linha 102 (bairros fundados nos anos 70), porém, quem residia no conjunto Tancredo Neves (nome oficial dos Funcionários) e no bairro do Grotão, tinha que pegar atalho por dentro do mato ou por ruas de terra batida (as que davam acesso as novas localidades) até uma parada próxima da linha 102 nos bairros vizinhos. O terminal não ficava no Grotão à toa, pois era a última fronteira da expansão urbana. Após isso, só tinha o vasto bairro de Gramame, que por anos e décadas teve o status de localidade rural. A nascente do rio Cuiá e seus primeiros metros de correnteza era a fronteira natural de ambos lados. 
Apenas a linha 101 não era suficiente para atender a demanda, logo nasceu a linha 114, atendendo os Funcionários III e IV, além de reforçar a linha 102 no bairro do Esplanada. No início dos anos 90, eram 25 carros para atender os bairros do Grotão, Funcionários II, III e IV, Esplanada, Ernany e Costa e Silva (10 na 101, 9 na 102 e 6 na 114), um número até satisfatório para uma área em expansão. A Etur, que operava na área, até que não fez feio nesse sentido. 
Vale lembrar também que entre 1988 e 1991, quatro linhas circulares passou a operar nesses bairros, com exceção do Esplanada, que foram as 1500, 5100, 1510 e 5110. A frota delas somados estava em torno de 30 veículos. 
Em 1996, já com a Reunidas, a linha 101 tinha 12 carros e as 114 e 102 tinham 6 cada (a frota foi reduzida em um veículo), pra época até que atendia bem, mas ñ evitava a lotação no horário de pico. O terminal no Grotão ficou pequeno demais para ter tanto carro no repouso, ainda mais quando a obra de uma escola (necessidade por crescimento populacional do bairro) começou, justamente na área do terminal, com isso, foi transferido para os Funcionários II no mesmo ano. 
Ainda em 96, o João Paulo II (que era um grande terreno entre os Funcionários II e o Geisel) foi crescendo ao ponto de já ter demanda de ônibus, a linha 107 foi a primeira a operar no bairro, mas a Boa Vista desistiu, e a 101 desde então passou a ter três carros (via JP II). Foi aí que parte dos Funcionários II já perdeu 3 carros radiais. 
Os Funcionários II ao longo do fim dos anos 90 foi crescendo, assim como o Esplanada, Ernany e Costa e Silva, sem falar do Grotão. A demanda aumentava, mas a quantidade da frota da 101 ainda suportava um pouco. A partir daí, o ônibus normalmente já saía cheio do Grotão, ou, com poucas cadeiras disponíveis, coisa que duas paradas após o terminal nos Funcionários II já lotava. No início dos anos 2000 a linha 101 recebeu dois reforços, com a reformulação do sistema opcional, na qual a linha foi contemplada. 
Já a grande localidade de Gramame foi loteado entre 97~98, recebendo o nome de Colinas do Sul, e só tinha a 113 cobrindo a área, mas na época a Boa Viagem criou a linha 116 com poucos carros. Como era uma localidade barata, muita gente que queria fugir do aluguel comprava o seu terreno e aos pouco ia fazendo sua casa. Nos anos 2000 a densidade demográfica no bairro estourou, ainda mais com a ampliação do loteamento batizado de Colinas II e o novo conjunto habitacional chamado de Gervásio Maia. 
Nesse cenário de “explosão demográfica” a frota da 101 não aumentou, pelo contrário, foi retraindo, chegando ao ponto de contar só com 6 carros convencionais (seria 7, mas o barucau na época recolhia à tarde). Muita gente no Colinas saía do bairro pra pegar a 101, pois a quantidade de ônibus era maior, os veículos eram mais novos e o tempo de espera era inferior, além de ir sentado, daí justificando o “fetiche” pela 101. A linha 114 também retraiu, perdeu um carro, mesmo com o Funcionários IV crescendo e com um carro sendo desviado para atender um conjunto habitacional vizinho denominado Presidente Médici. 
Em 2008 a antiga STTrans criou a linha 501 e ampliou a frota da 116, assim como a reativação da 103 que passou a partir do bairro, porém, o povo queria mesmo a 101 lá. Além dos testes realizados pela STTrans, unificando as linhas 116 com a 501 (5116 e 1516 – verdadeiro fracasso), a péssima qualidade da Boa Viagem contribuía bastante para o pão amassado pelo diabo ser a ceia diária dos moradores locais. 
A partir de 2010 a situação passou a melhorar para o Colinas, com a Boa Viagem (atual Santa Maria) sob gestão do Grupo A Cândido e com a construção do Terminal de Integração do Colinas do Sul. A linha 114 teve o seu terminal transferido dos Funcionários II para o terminal supracitado. Para o Colinas, foi ótimo, mas para os usuários dos Funcionários III e IV, foi péssimo, pois a demora aumentou, os ônibus já chegavam lotados e a frota continuava a mesma, com cinco veículos. Alguns carros da 116 chegou a operar também nos Funcionários, mas atualmente não circulam mais. 

Segundo o Censo de 2010, a população dos Funcionários girava em torno de 17.000 habitantes, a do João Paulo II e Costa e Silva, 10.000 cada, o Grotão, 6.000 e o Ernany Sátiro junto com o Esplanada, 9.000 habitantes. Já o Colinas do Sul na época ainda constava como sendo Gramame, tendo quase 7.000 habitantes. Durante esses cinco anos, em todos esses bairros a população cresceu, sobretudo no Colinas do Sul (incluindo o Colinas II, Gervásio Maia e a Irmã Dulce), e em todos esses bairros o processo de verticalização com edificações residenciais de até quatro andares está em curso. A demanda por transporte cresceu bastante, sobretudo no Colinas do Sul. 
Uma linha mudar de itinerário ou um terminal mudar de local para acompanhar o processo de reordenamento espacial é natural, mas essa mudança tem que ocorrer com qualidade. Infelizmente não foi o que ocorreu com a linha 101, pois a Semob descobriu um santo para cobrir outro. As linhas 114 e 116 já tiveram o seu terminal transferido da integração do bairro para o Colinas II, para atender a nova demanda, e suas frotas não foram aumentadas e já chegam cheios na integração do bairro. A medida tomada pela Semob para resolver o problema foi atender a reivindicação do bairro, colocando a linha 101 para partir da integração do bairro, aumentando a oferta de nove veículos. Como ninguém gosta de andar em pé e desconfortável, ainda mais dentro de um trajeto longo até o centro, quem vem nas 114 e 116 nessas condições acaba descendo na integração e pegando a linha 101 vaga. O resultado é a 101 já chegar lotado no Grotão, lugar de onde a viagem começava, e chegar nos Funcionários II abarrotado de passageiro. Pior para os usuários do Ernany Sátiro e Costa e Silva que também dependem da linha. A qualidade e o conforto tão propagado pela AETC e pela Semob vão para o espaço, resumindo essas questões apenas na renovação da frota. 
Somando a população que temos nessa área da cidade (Colinas do Sul, Grotão, Funcionarios, João Paulo II, Esplanada, Ernany Sátiro e Costa e Silva, temos em média 60.000 habitantes, maior do que muita cidade paraibana. A frota das linhas radiais e semi-circulares 101, A101, 102, 103, 113, 114, 116, 5201, 2501 e das circulares que transitam nos bairros 1500, 5100, 1510 e 5110 são de aproximadamente 80 ônibus. Pode parecer muito veículo, a média e quantidade pode parecer na teoria satisfatório, mas na prática, na realidade é diferente, basta fazer uma visita e conferir in loco, ainda mais no horário de pico. 
Um bairro como o Colinas do Sul, com a atual dinâmica de expansão residencial e aumento populacional em curto espaço de tempo precisa de uma linha expressiva para atender a demanda de deslocamento até o centro. Será que reforçar a linha 103 com uma quantidade satisfatória de veículo, reformulando o seu itinerário, fazendo com que ela pegue a BR-101 e o Acesso Oeste não seria uma saída? Assim a 101 poderia retornar ao seu antigo percurso, pois já tem uma demanda considerável. As linhas 114 e 116 poderiam ser unificadas e também reforçadas, além de terem seu itinerário reformulado. Uma linha integracional poderia ser criada, interligando o Colinas, Grotão e os Funcionários II. Enfim, soluções podem ser estudadas, para que um santo não possa ser descoberto para cobrir o outro.

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