Fonte: Mobilidade em foco
Matéria / Texto: Carlos Alberto Ribeiro
Fotos: Volvo
No dia 18 de março a divisão de ônibus da Volvo do Brasil (Volvo Bus Latin America) divulgou release para a imprensa especializada para tornar público que estava ampliando sua linha de chassis para ônibus rodoviários. Atenção, o correto é “chassis” e não “ônibus”. Ônibus é o conjunto formado pelo chassi, o “powertrain” e a carroceria. A Volvo não fabrica no Brasil ônibus e sim chassis para ônibus. Corrigido o equívoco, divulgado de forma errônea sempre, o que a Volvo disponibilizou foi mais um produto no seu portfólio de chassis pra ônibus vocacionados ao transporte rodoviário de passageiros. Trata-se do B310R, chassi de configuração de rodas tipo 4 x 2 (toco), equipado com motor de 310 cv de potência máxima. A nota prega que o novo veículo visa o mercado de fretamento e viagens de curtas e médias distâncias. E que tem como premissa eficiência e baixo consumo de combustível.
Segundo a Volvo o B310R abre um novo nicho de mercado para a montadora, pois se destina a aplicações específicas e que é o mais econômico da sua categoria. Como sempre, do que verifiquei em inúmeros blogs, sites, grupos e páginas do Facebook, foi a retransmissão na íntegra do release sem sequer um questionamento. O primeiro, vamos fazer aqui e vamos aprofundar nos parágrafos abaixo. É o mais econômico mesmo? Se assim for, preto no branco, de acordo com normas específicas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), diretoria específica da Volvo, divulguem os testes feitos em laboratório, do consumo específico em g/Kwh (gramas por kilowatt/hora). Qual foi o consumo verificado em teste na rotação de torque nominal do motor?
Se possível, pela potência nominal, nas Normas SAE e DIN. E, já que estão assegurando que o motor do B310R é o mais econômico de sua categoria, esperamos que a Volvo tenha dados técnicos em mãos do consumo de ônibus da concorrência, montados sobre chassis de configuração de rodas tipo 4 x 2 e carrocerias de mesmo peso. E que este consumo tenha como parâmetros de aferição topografias de aclives, declives e planícies semelhantes, realizados em condições de tráfego não díspares e condições de tempo iguais. Ou então que o departamento técnico da Volvo tenha os dados de consumo dos motores de outros fabricantes em testes realizados em laboratório. E se tiver, que divulgue como forma de assegurar que realmente o B310R é o mais econômico.
Na categoria de chassis do Volvo B310R encontramos o Iveco S170 com motor FPT NEF6 ID de 6,7 litros e 280 cv de potência. Da MAN temos o 17.280 OT 4 x 2, motor MAN D08, 6,8 litros e 280 cv de potência. Da marca alemã há ainda nesta categoria o 18.330 OT 4 x 2, motor de 8,9 litros e 330 cv de potência. Já a Mercedes-Benz concorre neste segmento com o O-500R 1830 4 x 2, cujo motor entrega 306 cv de potência. A Scania tem um baita representante nesta categoria, imbatível naquilo que é mais importante, o torque. É o chassi K310. A potência é praticamente a mesma do B310R, mas o torque é superior. E fica difícil entender por que a Volvo lançou o B310R se nesta categoria ela já tem o B290R, com motor de 7,14 litros e 290 cv de potência.
A Volvo já estava bem representada nesta categoria de chassis pelo B270F (Fretamento) e pelo B290R. Como pretende inserir agora o B310R? Vai jogar com a política de preços? Uma das duas outras versões poderá ser canibalizada pelo B310R. Na teoria, o último deverá ser o mais caro entre os três. E por que os clientes comprariam um produto mais caro e de menor eficiência energética que alguns motores da concorrência? No release da Volvo consta afirmação do presidente da divisão de ônibus da Volvo que o torque do motor do B310R é de 1.500 Nm (Newton/metro). Nesta afirmação está o pulo do gato de que a Volvo desenvolveu um produto inferior a alguns motores da concorrência. Ocorre que o torque do B310R é de 152,9 mkgf (1.500 Nm dividido pela constante 9,81). Apesar de ter surgido anos mais tarde, ainda perde em torque para o Scania K310, cujo torque chega a 158 mkgf e é o rei da categoria.
Aí alguém poderá dizer: mas somente 5,10 mkgf a mais? Isso não é nada. Sim e não. O motor do B310R consegue este torque em um motor de 11 litros. A Scania com um motor de nove litros. Isso significa que a Volvo extraiu 28,18 cv por litro. A Scania atingiu no K310 o número de 34,45 cv/litro. São 22,3% a mais de eficiência energética. Vamos a mais números. O torque do K310 é 3,4% superior. Visitei o site da Volvo para buscar mais informações de cunho técnico sobre o B310R e, pra minha decepção, o site está desatualizado, não consta ainda as informações sobre o novo chassi, o que é uma falha lamentável. Assim, fico sem saber qual a nomenclatura técnica de identificação do motor, se além de turboalimentado possui intercooler ou não e em qual regime de rotação se consegue a potência máxima.
O torque do motor, à parte mais importante, também fiquei sem a informação de que em regime de rotação se extrai o torque máximo. E seriam informações importantes para poder fazer um confronto com o chassi Scania K310. Mas de antemão, devido ao seu motor de 11 litros, ante 9 litros do rival Scania, mesmo não tendo o PBTC Legal (peso bruto total combinado), na relação “kg/kgfm” o B310R fica em desvantagem se comparado ao K310 e fica difícil crer que ele pese 400 quilos menos que os rivais. Começa pelo motor, um cilindro a mais, maior cilindrada, maior peso. Conseguiram a redução de peso aonde? Se pesa quase meia tonelada menos que a Volvo divulgue a Tara do seu chassi e dos demais concorrentes. Do contrário, no genérico, sem entrar em detalhes, fica fácil dizer que o B310R é o mais econômico e mais leve que os concorrentes.
Outro fato estranho é porque a Expresso Princesa dos Campos incorporou unidades do B310R, se no final de fevereiro adquiriu 10 unidades do ônibus Marcopolo Viaggio 1050 com o chassi alongado Volvo B270F, mais barato e de melhor relação custo/benefício que o B310R, também com opção de alongamento para 14 metros, mas veículo mais pesado. Voltando novamente a análise técnica do B310R, diz a nota da Volvo que ele é fabricado na mesma plataforma dos demais modelos rodoviários da marca. A plataforma do B290R, B310R, B340R e B380R, todos 4 x 2, é uma só? Então temos que o B310R, comparado com o B290R, devido ao maior peso do primeiro, aliado ao seu maior custo de aquisição, apresenta relação custo/benefício inferior e demandará maior tempo na planilha de custos para que o investimento nele feito seja amortizado e comece a dar lucro.
Ainda que ele apresente itens de série como a caixa de câmbio automática I-Shift, freio motor VEB, suspensão a ar com controle eletrônico e freios a disco EBS 5, itens não disponíveis no B290R, muitos destes itens também são encontrados nos chassis da Mercedes-Benz e da Scania. E tais itens não são fatores importantes para viagens de fretamento e em linhas rodoviárias regulares feitas em trajetos de curtas e médias distâncias. Tais itens pesam na planilha de custos se o custo de aquisição estiver muito acima dos produtos da concorrência. Outra ressalva que faço é a falta de transparência dos fabricantes de chassis pra ônibus. De todos eles, sem exceção. Não temos acesso ao preço de aquisição e somente informam o peso bruto total (PBT). Este PBT informado trata-se da capacidade máxima de tração (CMT), ou seja, o peso total do conjunto chassi/carroceria, com o coletivo lotado de passageiros. Queremos é o peso do chassi, sem a carroceria.
Queremos, diretoria específica da Volvo, é o preço de aquisição de cada chassi, como vocês já o fazem com os caminhões, cujos preços de compra são públicos. Queremos o custo operacional de cada modelo, custo fixo/custo variável para uma determinada quilometragem mensal. Queremos a ficha de oficina, com o custo de manutenção. Abram um precedente. Torne-se a primeira montadora de chassis de ônibus a ser mais transparente neste requisito, neste mundo obscuro onde se recorre a tergiversações de configurações e, com base nisso, se omite informações vitais. E estas informações vitais para estudo, para comparações, tanto são escondidas pelos fabricantes de chassis quanto pelos fabricantes de carrocerias pra ônibus. A transparência é nota zero pra todos.