Fonte: Diário do Grande ABC
Foto: Thiago Martins de Souza
A partir de segunda-feira, a Mercedes-Benz vai suspender a produção de caminhões, ônibus e chassis na região por tempo determinado, mas não informado pela montadora alemã. A companhia colocou seus cerca de 9.000 funcionários da fábrica de São Bernardo em licença remunerada – 1.400 deles já estavam afastados desde fevereiro – devido à queda nas vendas, à baixa adesão ao PDV (Programa de Demissão Voluntária) e ao excedente agora estimado em 1.870 empregados.
Em comunicado enviado ontem aos seus colaboradores, a companhia informa que vive um dos piores momentos de sua história, em razão da crise econômica e do reduzido mercado de veículos comerciais (caminhões e ônibus), sobre o qual não possui qualquer controle. “Essa situação nos levou a uma alta ociosidade e, consequentemente, à necessidade crucial de reduzir o nosso quadro de pessoal. Para agravar ainda mais esse cenário, temos tido momentos de grandes dificuldades em nossa operação”, diz o boletim ao qual o Diário teve acesso.
Após lamentar a baixa adesão ao PDV – que ficou aberto em duas etapas, 1º de junho a 8 de julho e, depois, de 20 a 25 de julho, e recrutou 630 voluntários –, o informe diz que na semana que vem serão divulgados a data de retorno das atividades da montadora e comunicado, “individualmente, a todos os envolvidos, sobre o encerramento de seus contratos de trabalho.”
A Mercedes afirma que há 12 meses vem lançando mão de ferramentas para adiar os cortes enquanto a situação no mercado automotivo é crítica. Em setembro do ano passado, a montadora aderiu ao PPE (Programa de Proteção ao Emprego), com redução de 20% da jornada de trabalho e 10% dos salários, que se estendeu até maio. Diante da decisão por não renová-lo, os profissionais ganharam mais três meses de estabilidade, cujo prazo vence no dia 31. Ou seja, a partir de setembro, demitirá seu excedente de 1.870 operários.
Desde o dia 2, quando a firma cravou que faria as demissões, os empregados vinham realizando paralisações pontuais na fábrica, com o respaldo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
O diretor da entidade, Moisés Selerges, conta que ficou surpreso com a atitude da montadora, já que havia conversas em andamento entre ambas as partes. “A história da relação entre Mercedes e sindicato sempre foi pautada pelo diálogo, e não por decisões unilaterais. Em nossas reuniões parecia um monólogo, pois ao mesmo tempo em que nos oferecíamos para construir uma saída juntos, com criatividade, a empresa apenas lamentava e dizia que não há mais o que fazer. Mas nós não vamos aceitar essa situação.”
Selerges afirma que reconhece a grande queda nas vendas do setor, mas acredita que o cenário não ficará para sempre assim. “O Brasil tem forte mercado para caminhões e ônibus. Da mesma forma que quando a demanda está intensa nós não abusamos para conseguir benefícios, acreditamos que agora deve haver equilíbrio. A empresa precisa promover responsabilidade social com seus trabalhadores. Nem que para isso sejam necessários repasses de outras unidades, fora do País, para socorrer as fábricas brasileiras.”