Se lembra quando a linha 510 passou a ser mão única na praia?

Foi em 1980 e ninguém se acostumou de cara com a mudança. A estratégia demorou, mas colou, em compensação a linha 510 mudou muito...
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Por Ônibus Paraibanos
Imagens Acervo Histórico PBT

Mudanças são sempre difíceis de se acostumar, mas quando você se acostuma, elas passam a fazer parte do seu cotidiano. É o que estamos presenciando com a grande quantidade de mudanças que a retomada e as mudanças de comportamento geradas pela pandemia da COVID-19 estão proporcionando, com mudanças na estrutura do sistema de transporte coletivo que ficou paralisado por causa da crise sanitária em João Pessoa.

Se apesar desse “novo normal” você ainda não está acostumado com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, vamos voltar 40 anos no tempo para relembrar uma mudança que ninguém se acostumou assim de cara, mas que com o passar do tempo, faz parte da sua vida. E que hoje, você já não se imagina mais sem ela.

E a linha que estrela essa mudança ousada para a época e incompreendida de início – como tantas mudanças que acontecem hoje – é ela mesma: a linha 510. Que não por acaso está com seu itinerário atual modificado como efeito da pandemia. Foram tantas mudanças ao longo dos anos, quer seja de itinerário, quer seja de empresa, que a linha nem trafega mais pelo itinerário que iremos descrever.

Você sabia, por exemplo, que as linhas da praia passavam em mão dupla?

Hoje é inimaginável, mas você já pensou um fluxo e contra fluxo naquela estreita Almirante Tamandaré? Voltamos ao ano de 1980.

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Como se sabe, a via de beira-mar de João Pessoa não é larga que nem a Atlântica carioca. Seria lógico que um tráfego de mão dupla não daria certo. A linha que atualmente é identificada pelo código 510, como mencionamos, antes passava em mão dupla pela então Avenida Beira-Mar (atual Almirante Tamandaré em Tambaú).

Naquele ano de 1980 foi estabelecida uma mudança que aliviaria o tráfego das praias e adaptaria as vias à realidade de que daquele tamanho não passariam; o jeito era adaptar o tráfego. É nessa ocasião que o Detran-PB altera o fluxo e contra fluxo das vias da praia, inicialmente para os ônibus. Sim, quem estabeleceu a mudança foi o Detran-PB – a época, engenharia de tráfego era competência estadual e era do Detran-PB, não da atual Semob-JP, que só seria criado como STTrans em 1998, deixando o Detran apenas com a atribuição de licenciamento e fiscalização da frota circulante, como determinava o Código Brasileiro de Trânsito na divisão de atribuições dos estados e municípios em relação ao trânsito.

E é nessa mudança de 1980 que os ônibus da atual 510 passam a trafegar pela praia apenas no sentido terminal. No Centro, passariam pela via paralela definida pelo jornal da época como “a terceira rua de trás” – que é a Nossa Senhora dos Navegantes – guarde essa rua.

No caso do 507 da então Marcos da Silva, a lógica era a mesma, mas o fluxo era oposto. É a partir daí que o tráfego das praias passou a ser como conhecemos atualmente; ao sair da Epitácio, o fluxo da praia vira à esquerda em Tambaú, e à direita no Cabo Branco. A lógica “mata” a via da Epitácio sentido Centro do lado de Tambaú em duas quadras, que passaram a ser mero estacionamento até a construção do Largo de Tambaú, iniciada ano passado.

Binário? “Que ser isso”?

De início, como mostrava uma matéria de jornal daquela época, ninguém se acostumou de cara com as mudanças, até porque na época ninguém estava acostumado a ver um binário em bairros, quanto mais na praia. Essa experiência de certo modo explica a estranheza inicial das mudanças. A conversa era de que o esquema “não funcionava” e de que os coletivos “estavam se escasseando”. Tal mudança teria diminuído o número de coletivos segundo a matéria. Estava todo mundo perdido; passageiros, motoristas, empresa. A demora dos ônibus na ocasião chegava a ser de meia hora, segundo o relato do jornal.

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E lembremos de novo: não existia na época um órgão de trânsito dedicado como é a Semob-JP de hoje, nem muito menos essas mudanças costumavam ser divulgadas com ostensividade nas limitadas mídias da época. Hoje você consegue ser informado de uma mudança de linha ou de sentido de rua pelos sites, redes sociais, jornais, rádio, televisão, Ônibus Paraibanos… Imagina naquela época em que o motorista era literalmente pego de surpresa?

A mudança colou, mas o tempo mudou

As estranhezas iniciais desse sistema binário das praias foram superadas com o tempo e se mantém até os dias de hoje, incorporadas a rotina do pessoense, que não imagina mais a Tamandaré ou o Cabo Branco como uma mão dupla. Se não fosse implantada naquela época, seria em outra, seria agora. Porque com o aumento do número de carros ao longo dos anos, ela seria caótica. E não é ainda mais caótica por causa dessa estratégia que demorou, mas colou.

Já a linha 510 mudou demais a ponto de nem mais passar na praia hoje – justamente porque o fluxo de veículos – sejam carros ou veículos de turismo – na beira-mar de Tambaú aumentou demais, o que só reforça o acerto e a intenção da medida, e porque ela visaria justamente o futuro que vivemos agora.

E a linha 510, como mudou…

A linha 510 ao longo dos anos foi deixando de passar na Almirante Tamandaré, trafegando ao sair da Epitácio na Nossa Senhora dos Navegantes – sim, a “terceira via de trás” é o contra fluxo de hoje – e indo para o Centro na Avenida Professora Maria Sales, passando unicamente por essas ruas quando está em Tambaú. De início até chegava a ir para a praia saindo da Navegantes para a Tamandaré pegando a Avenida Nego. Hoje passa em toda a extensão da Navegantes – já não trafega mais à beira-mar de Tambaú.

Até antes da pandemia da COVID-19, a linha passava na beira da Praia de Manaíra. Após a retomada do sistema após a paralisação provocada pela pandemia, teve seu itinerário modificado para as avenidas João Câncio e Esperança, em Manaíra, substituindo a 511, deixando de passar de vez na praia – e na orla como um todo. As linhas 1500 e 5100 a substituíram no trecho da Praia de Manaíra.

Relembre a história da linha 510 até 2012

Em 1980, a linha 510-Tambaú era operada pela São Judas Tadeu, que na ocasião substituía a Rodoviária Santa Rita na operação da linha, que já foi da Auto Viação Dutra, da 1º de Maio e da Senhor do Bonfim antes delas. Desde 1988 é operada pelo Grupo A.Cândido, inicialmente pela Transnacional, e desde a retomada do sistema após a paralisação da pandemia, é operada pela Reunidas, sendo esta sua maior linha, com 13 ônibus, incluídos trucados e articulados.