Em 1999, a Volvo quase comprou a Scania

A negociação seria feita com a compra das ações dos principais acionistas da Scania, como a Wallenberg Group Investor, que detinha 45,5% da montadora na época
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Por Blog do Caminhoneiro
Imagens Divulgação

No início do ano de 1999, durante o Salão de Veículos Industriais de Bruxelas, o então presidente da Volvo Trucks, Karl-Erling Trogen, disse em uma coletiva de imprensa que a Volvo estava comprando totalmente a Scania. Na época do anúncio, a Volvo comprou 12,9% do capital da Scania, se tornando um dos principais acionistas da empresa.

Para a Volvo, a compra da maior rival seria uma forma das duas empresas crescerem juntas. A compra inicial foi estimada em 5,2 bilhões de coroas suecas, algo em torno dos R$ 3,2 bilhões. A nova Volvo, com a Scania sob sua posse, se tornaria a maior fabricante de veículos comerciais da Europa, sendo a segunda maior do mundo.

Além disso, o negócio reduziria custos para desenvolvimento de novos produtos, como motores e caixas de câmbio, e já estava programada a apresentação de uma linha de veículos que compartilhariam a maior parte dos componentes entre si.

A negociação seria feita com a compra das ações dos principais acionistas da Scania, como a Wallenberg Group Investor, que detinha 45,5% da montadora na época, além de uma oferta pública para compra de todas as ações da empresa.

Para a Scania, entrar no Grupo Volvo Trucks resolveria alguns dos problemas que a montadora enfrentava na época, mas, de acordo com Leif Östling, presidente da Scania, existiam outras alternativas. Para o executivo, a forma como a Volvo anunciou a compra da Scania foi muita dura, o que poderia complicar o negócio no futuro. Isso realmente aconteceu.

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No mês de julho de 1999, a Volvo anunciou a compra de todas as ações da Scania, por SEK 315 cada (R$ 190), cerca de 30% acima do valor de mercado na época. Os acionistas receberiam o valor em dinheiro ou em seis ações ações da nova Volvo para cada cinco ações da Scania.

Inicialmente, o plano da Volvo era manter as duas empresas operando separadas, apenas com o compartilhamento de algumas tecnologias, e atuando como concorrentes. Para o futuro, estava prevista a unificação da rede de serviços, além do lançamento, como mencionado anteriormente, de caminhões e ônibus compartilhando a maioria de seus componentes entre si.

Em 1999, a Scania vinha apresentando resultados melhores em vendas pelo mundo, com 24 mil caminhões vendidos nos primeiros seis meses daquele ano, 1% acima do mesmo período de 1998.

Mundialmente, a nova Volvo teria uma fatia de 19% do mercado de caminhões, atrás da DaimlerChrysler, que tinha 25%. Na Europa, a nova Volvo teria 31%, se tornando a maior fabricante de caminhões do continente, já que a DaimlerChrysler tinha 22%.

Além da compra da Scania, fontes da época citavam que a Volvo mirava a compra da Navistar nos Estados Unidos e também da Iveco, que produzia modelos leves, segmento em que a montadora não atuava.

O fechamento do negócio, no papel, aconteceu no final de agosto de 1999. Por um curto período, a Volvo foi oficialmente a dona da Scania, apesar do negócio ainda precisar passar pela aprovação da Comissão Europeia.

E foi aí que o negócio desandou. Apesar da União Europeia atuar como um conjunto, como se fosse um único país, a Comissão analisou que as duas montadoras juntas iriam representar um monopólio em vários países, como na Suécia, com 92,5% do mercado, ou na Inglaterra, com quase 40% de participação nas vendas de modelos acima de 15 toneladas.

A Volvo já tinha, nessa época, aprovação dos próprios acionistas para poder comprar a Scania, pelo valor total de 60,7 bilhões de Coroas Suecas, cerca de R$ 36,8 bilhões.

A palavra final da Comissão Europeia foi dada em março de 2000, na voz do Comissário Europeu para a Concorrência, Mario Monti, com um grande não. O argumento da negativa para a união total entre as duas empresas foi que a fusão iria dar à Volvo uma posição privilegiada em alguns mercados, como a Suécia, muito à frente de seus concorrentes.

A Volvo até tentou reverter a decisão, negociando a venda de uma rede de concessionários da Scania, ou mesmo vender os caminhões da Scania, por dois anos, sem marca, para evitar o monopólio.

A Volvo, nessa época, já controlava 30,6% das ações com direito de voto da Scania, e 45,5% do capital total da empresa. Apesar da Volvo tentar reverter a decisão de muitas formas, a Comissão Europeia não mudou de opinião sobre a fusão, e acabou com o negócio que já estava acertado entre as marcas.

Volkswagen é dona da Scania, indiretamente

O Grupo Volkswagen atualmente é o dono da Scania, por meio do Grupo Traton, junto com as marcas MAN, Volkswagen Caminhões e Ônibus e Navistar.

A Scania foi comprada em sua totalidade pela Volkswagen em maio de 2014, por 6,7 bilhões de Euros. O negócio havia sido anunciado em fevereiro daquele ano, e com a compra, a Volkswagen passou a ser dona de 98,1% das ações da Scania, além de 99% do direito de voto.

A Volkswagen começou a comprar a Scania gradualmente, desde que a negociação com a Volvo não deu certo, no ano 2000. Até o início de 2014, a VW já detinha 89% das ações, anunciando em fevereiro daquele ano a compra do que faltava.