Está sacramentada a transferência da empresa Expresso de Prata para o Grupo Constantino, dono da Gol e outras empresas no ramo de transporte rodoviário em diferentes estados. A superintendente-geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) publicou no Diário Oficial da União de ontem, 11/04/2022, Patrícia Alessandra Morita Sakowski, o ato de aprovação da negociação.
Como revelado pelo CONTRAPONTO, a Expresso de Prata foi adquirida em negócio firmado através da holding Comporte (leia abaixo). A aprovação do Cade é essencial para a liberação das atividades sob o ponto de vista da análise econômica de concentração das atividades em um mesmo segmento. Além disso, a venda da Expresso de Prata também já obteve o aval da Agência Reguladora Estadual de Transportes (Artesp).
O requerimento ao Cade foi assinado pela Viação Piracicabana, que integra o grupo das empresas de Constantino. Em Bauru, as informações são de que a operação da Prata sob o novo comando mantém o quadro de funcionários e o nome nas linhas operadas a partir do Município.
A JARDINEIRA
Nascida em 1927, através de Angelo Franciscato, filho de imigrantes italianos, a história registra que Angelo chegou ainda criança em Piracicaba, acompanhado da mãe e de cinco irmãos menores. Conseguiu emprego numa fábrica de tecidos, depois em uma unidade de parafusos. Aprendeu mecânica neste local, o que o ajudou a conseguir emprego na oficina da Ford de Piracicaba.
Com economias, comprou uma jardineira usada e abriu uma linha de transporte de passageiros entre Piracicaba e Torrinha, em 1927. Nessa época, aos 19 anos, atuava como motorista, cobrador, mecânico e contava com um funcionário para revezamento. Montou, depois, uma oficina, onde passou a gerar suas próprias jardineiras.
A Prata será comandada a partir de Bauru por José Antonio e Felipe Augusto Jacomelli. Conforme o Cade, o ato de aprovação tem aplicação a partir de 1 de maio próximo.
A HOLDING
A holding Comporte Participações é controlada pelo Conselho de Administração da Gol Linhas Aéreas. As empresas do grupo, com presença nos setores aéreo e de transporte rodoviário (e de cargas) estão espalhadas por diferentes estados, cuja atividade e expansão tem os olhos do fundador, Nenê Constantino.
O interesse pelas operações da Expresso de Prata pelo Grupo Constantino (através dos 4 irmãos Ricardo, Joaquim, Henrique e Constantino de Oliveira Júnior) coincide com as acomodações no ciclo de negócios dos patriarcas da família Franciscato, com Alcides (92 anos) e o irmão Alceu (90 anos).
“TEMPO” NEGOCIAL
As conversações finais entre os executivos das empresas chegaram no momento de pós-pandemia, mas “nasceram antes”. As sondagens preliminares tiveram início ainda antes de 2020, quando a Covid causou estragos profundos em vários setores da economia, incluindo transportes de passageiros. As perdas de faturamento no setor foram substanciais. Várias empresas pelo País estiveram, ou estão, à venda.
Até 2018, o grupo Franciscato ainda desenhava recomposição de estratégias no setor, cujas movimentações são demarcadas pela abertura de consultas públicas e realização de 14 audiências públicas em todo o Interior, pelo governo do Estado de São Paulo, visando a concorrência pelas concessões. Mas o processo foi arquivado pelo governo paulista, sem conclusão.
Veio a pandemia e o transporte de passageiros foi atingido em cheio. A redefinição de custos e ajustes nos negócios, para passar pela “tempestade sanitária econômica”, perduraram mais do que o esperado no País. Entre outros fatores, empresas do transporte discutiram fusões, outras deixaram o mercado.
As retomada das conversações vieram com avanço “expressivo” no final de 2021, apurou o CONTRAPONTO na ocasião.
Os negócios da família Constantino também sofreram mutação. Entre as sociedades, por exemplo, os irmãos Nenê e Paulo repactuaram participações como sócios, em julho de 2021, conforme os registros. Nichos regionais específicos, como as operações rodoviárias da empresa Andorinha, por exemplo, foram separados, entre os irmãos.
As operações da família estão presentes em diversas marcas, como o controle da concessionária Via Rondon e, claro, a Gol Linhas Aéreas, entre outras empresas.
Fonte: Contraponto