Má gestão pública?! Pesquisa nacional aponta as principais dificuldades das empresas de transporte público no Brasil

Resultados foram divulgados essa semana, pesquisa contou com a participação de empresas de todas as regiões do país.
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Durante o Seminário da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos – NTU, realizado em Brasília nos últimos dias 08 e 09 de agosto, a Confederação Nacional do Transporte – CNT divulgou o resultado da sua pesquisa “Pesquisa CNT Perfil Empresarial 2023 – Transporte Rodoviário Urbano de Passageiros”. Apontando os principais desafios enfrentados pelas empresas e empresários de todo o Brasil, para oferecer um transporte público com mais eficiência e qualidade para a população.

O transporte público urbano é um serviço que cumpre uma função social, visto que o transporte é considerado, desde 2015, um direito de todos os cidadãos pela própria Constituição Federal. Além disso, por ser um serviço intrinsecamente relacionado com a movimentação de pessoas, está muito suscetível a variações provocadas por fatores externos, como foi o caso da pandemia de Covid-19.

Com o trabalho que foi realizado na pesquisa, a CNT busca oferecer apoio personalizado e contextualizado aos empresários do setor e auxiliar no processo de tomada de decisões. A publicação aborda as dificuldades mais recorrentes na categoria, para que seja possível desenvolver ações precisas e eficientes para implementar as melhorias desejadas

Subsídio Público

Recentemente publicamos aqui no Ônibus & Transporte, que o Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo (TCE-ES) ordenou que a Prefeitura de Guarapari apresentasse em 60 dias um cronograma para operação do sistema de transporte público urbano da cidade. Após avaliação de que a licitação realizada pela gestão pública era desatualizada e fora da realidade do município, decisão ocorreu após uma série de denúncias realizada pela empresa Expresso Lorenzutti, operadora do sistema, que reclamava da falta de subsídio, defasagem no cálculo tarifário e muitas outras irregularidades que afetavam a empresa.

Um dos pontos levantados pela pesquisa aponta que mais da metade das empresas brasileiras não contam qualquer subsídio público (51,1%), sendo que 32,6% possui somente a tarifa paga pelo passageiro como fonte de remuneração prevista em contrato.

“De fato, apesar dos avanços em relação ao subsídio público promovido pela pandemia de covid-19, o caminho ainda é longo para desonerar o custo do sistema do passageiro, que na maioria dos sistemas é quem paga a conta. A pesquisa comprovou isso”

Bruno Batista, diretor executivo da CNT e coordenador da pesquisa.

Violência e vandalismo

A recorrência de atos de violência e vandalismo também é algo que impressiona, 59,2% das empresas comunicaram que seus veículos foram assaltados e 40,2% tiveram seus veículos vandalizados, só no último ano, além de 20,1% que tiveram seus veículos incendiados por criminosos.

Atos que além de ser um prejuízo financeiro para a empresa e as operações do sistema, resultam no afastamento dos usuários do transporte público por medo de serem vítimas da violência. Consequentemente os usuários migram para outros meios de transporte, resultando na redução do IPK – Índice de passageiros por quilômetro, na redução da arrecadação, aumento dos custos e sobrecarga das vias urbanas, prejudicando a mobilidade urbana.

Sem prioridade viária nas cidades

Por si só, o desenvolvimento de um sistema de mobilidade urbana eficiente já possui grandes desafios para as cidades, chegam a ser astronômicos os números das grande metrôpoles: número de passageiros, de veículos, quilometragens percorridas, trânsito de pedestres e muitas outras variantes.

A pesquisa revelou que 86,8% das empresas operam em cidades que não possuem qualquer tipo de prioridade na circulação de ruas e avenidas das cidades que operam. Mesmo o horário das rotas sendo a principal informação questionada pelos usuários e o atraso de veículos sendo a principal reclamação registrada.

Setor já conta com tecnologia embarcada

O segmento conta com 1.577 empresas de ônibus em operação no Brasil, que operam uma frota de 107 mil ônibus e respondem, juntas, pelo transporte de 85% da população nas cinco regiões do Brasil. Sendo responsável pela geração de 315 mil empregos diretos.

“A presença do setor, como esperado, é predominantemente no Sudeste brasileiro, que também é a região com a maior população. 53,4% das empresas estão na região. Em segundo lugar vem o Sul (20,1%), seguido do Nordeste (13,2%). Depois vêm a região Centro-Oeste (6,9%) e a Norte (6,3%)”

Bruno Batista, diretor executivo da CNT e coordenador da pesquisa.

O investimento em tecnologia, principalmente para pagamento da passagem é uma realidade no setor de transporte urbano que também foi constado pela pesquisa. Quase 91,4% das empresas de ônibus no Brasil já utilizam o sistema de bilhetagem eletrônica.

Dessas empresas, 90,2% operam sem o posto de cobrador. Sendo 75,8% implementaram o pagamento com cartão de transporte como forma única de substituir o cobrador e 15,3% optaram pelo pagamento da tarifa com o motorista.

Pesquisa em números

Tarifa

  • 36,2% têm a tarifa paga pelo passageiro como a única forma de remuneração definida em contrato;
  • 51,1% não recebem qualquer subsídio do governo;
  • 56,9% consideram a dificuldade em reajustar o valor das tarifas como principal problema;
  • 18,5% dos passageiros recebem algum tipo de benefício tarifário.

Pagamento

  • 91,4% utilizam o sistema de bilhetagem eletrônica;
  • 75,8% implementaram pagamento com cartão de transporte como forma de substituição ao cobrador.

Sustententabilidade

  • 74,7% monitoram o uso de combustível;
  • 74,1% acompanham a geração de resíduos.

Violência

  • 59,2% foram vítimas de assalto no último ano;
  • 40,2% sofreram ato de depredação no último ano;
  • 20,1% tiveram veículos incendiados no último ano.

Custos

  • 74,1% consideram preço do diesel a principal dificuldade enfrentada;
  • 72,4% indicaram a manutenção do veículo como o fator que mais sobrecarrega os custos das empresas.

Imagens: Cesar Brustolin e Daniel Castellano/SMCS, Gustavo Varas/Prefeitura de Pelotas e Divulgação/NTU